Você se considera uma pessoa criativa? 

Ainda que sua resposta tenha sido negativa, diferentes estudos e pesquisas mostram que todos nós nascemos com uma grande capacidade de pensarmos em novas ideias e propor novas soluções. No entanto, à medida em que envelhecemos, esse potencial vai sendo minimizado.

Essa perda de criatividade se torna um ponto crítico num mundo que a capacidade de inovação é um importante fator competitivo, tanto para empresas quanto para profissionais. Pensando nisso, avaliamos a seguir como desenvolver a criatividade.

Trouxemos análises de diferentes pesquisadores sobre o que é ser criativo e abordamos quais ações podem ser praticadas para mantermos a capacidade de identificar novas e boas ideias.

Afinal, o que é a criatividade? 

É comum associarmos a criatividade a habilidades artísticas. Assim, se não tocamos um instrumento, não temos dons de pintura ou artesanato ou qualquer aptidão para o teatro, podemos nos sentir pouco criativos. Mas, na realidade, a criatividade vai muito além.

Ela não se restringe às disciplinas ligadas às artes. Pode estar na matemática, na química ou na culinária, como destaca Sir Ken Robinson, autor de livros como Libertando o Poder Criativo. Segundo ele, “criatividade é o processo de ter ideias originais que entreguem valor”. 

É importante ressaltar que envolve um processo, não um evento. Raramente, a melhor versão de um projeto é a primeira. É necessário evoluir, pensar como corrigir os possíveis erros e aprimorar o que há de positivo.

Além disso, o conceito de que a criatividade está atrelada a ideias originais não quer dizer que deva ser algo totalmente novo para a sociedade, mas sim para quem desenvolve a ideia ou para o grupo responsável por desenvolvê-la. 

Por último, a criatividade está ligada a valor. Esse ponto de ser polêmico e de difícil mensuração, mas é importante que as ideias novas e originais sejam transformadas em realidade. “A criatividade não é um processo livre. É trabalho, elaboração e novas tentativas para chegar ao acerto”, observa Sir Ken Robinson.

A habilidade envolve tanto pensamento quanto produção. Se não há uma ação para tornar a ideia realidade, o que acontece é apenas imaginação e não criação. Ou seja, você é imaginativo, mas não criativo.

Por que não exploramos todo o nosso potencial criativo?

Autores de Ponto de Ruptura e Transformação, Dr. George Land e Beth Jarman foram convidados pela Nasa para desenvolver um teste que medisse a capacidade criativa de seus engenheiros. O teste criado foi tão simples que os pesquisadores decidiram aplicar em pessoas de diferentes faixas etárias.

Os resultados mostraram que nascemos com poder de sermos “gênios criativos”, mas que esse potencial vai se perdendo à medida que envelhecemos. 

Quando o teste foi realizado com 1.600 crianças entre 4 e 5 anos, 98% marcaram o nível genial. 

Novos testes foram feitos quando essas crianças chegaram aos 10 anos de idade e o número caiu para 30%. Outro teste foi feito aos 15 anos e os resultados decresceram para 12%. Por fim, ele deu a mesma avaliação para 280 mil adultos e encontrou somente 2% de gênios criativos.

Mais detalhes sobre o estudo e os resultados alcançados são explicados por George Land no vídeo abaixo:


E por que isso acontece?
 


Enquanto somos crianças, há mais abertura para o desenvolvimento do potencial criativo e, principalmente, não convivemos tanto com o medo de fracassar. Em contrapartida, à medida em que amadurecemos, passamos a dar mais atenção às críticas e à preocupação de não nos adequarmos ao que é determinado como padrão pela sociedade.

Frases como “isso não levará a lugar algum” ou “essa ideia não faz sentido” acabam minando, aos poucos, o potencial criativo. E, assim, passamos a encarar, constantemente, o medo de tentar algo novo. 

A forma como as escolas “matam a criatividade” já vem sendo discutida há muitos anos. No vídeo abaixo, Sir Ken Robinson explica como isso pode ser danoso para o desenvolvimento de uma sociedade que traga novas ideias e soluções:


No mundo corporativo, isso se traduz em culturas organizacionais que não abrem espaço para a
inovação. As companhias que têm a cultura de punir os colaboradores que falham na busca por uma inovação, aos poucos, reprimem o desejo dessas pessoas por encontrar novas soluções.

Nesse cenário, os colaboradores passam a ter o medo de errar e, consequentemente, as empresas ficam distantes de qualquer inovação. Os cargos são ocupados não por aqueles que desejam acertar, mas por quem não falha.

É criada, portanto, uma cultura enraizada de que não permite o erro e o risco. “Imagine um exemplo: há cinco anos, um cara sugeriu que a empresa deveria começar a se digitalizar, a trabalhar com a ideia de trabalho remoto, tirar os servidores locais da empresa e colocar na nuvem. E esse cara pensou se valeria a pena comprar essa briga, porque estava com muito medo. Provavelmente, várias dessas iniciativas morreram há alguns anos”, observa Leonardo Cavalcanti, da Linkana.

“Coisa nova e na vanguarda é uma necessidade de sobrevivência. Há empresas que, por conta disso (cultura de aversão ao risco), vão quebrar. Infelizmente, quem não estava preparado e não tem como amenizar essa dor, acaba morrendo em cenários mais graves como o nosso de crise”, acrescenta.

Ouça toda a participação de Leonardo Cavalcanti no Digicast:

A criatividade pode ser aprendida? 

Você pode achar que não é uma pessoa tão criativa quanto gostaria de ser, mas essa é uma habilidade que pode ser aprendida. Essa é a conclusão de diversos estudos e pesquisas realizados a respeito do desenvolvimento da criatividade.

“Você não ensina as pessoas a serem criativas por meio de instruções diretas, como faça o que eu faço e você será mais criativo. Existem aspectos do aprendizado em qualquer campo que você precisa para dominar habilidades, disciplinas e técnicas. Mas ensinar é muito mais que instrução direta. Ensinar é um processo de habilitação. É um processo para dar às pessoas oportunidades como um processo de encorajamento. É um processo de inspiração e orientação”, avalia Sir Ken Robinson.

Como qualquer habilidade, a criatividade pode ser mais natural para algumas pessoas, enquanto outras precisarão de mais tempo e esforço para desenvolvê-la. É importante transcender formas tradicionais de pensar e agir, buscando melhorar o que temos atualmente. 

E, reiterando, é preciso desenvolver as ideias, testando aquilo que é proposto ou avaliando a viabilidade de um novo processo. 

Acesse o Clube da Leitura da Digilandia e confira livros que ajudam a aumentar a organização e a produtividade no trabalho:

Clube da Leitura Digilandia

5 habilidades relacionadas ao desenvolvimento da criatividade

Para o aprendizado da criatividade, é preciso desenvolver cinco habilidades. Essa conclusão é de Jeff Dyer, Hal Gregersen e Clayton M. Christensen, autores do livro The Innovator’s DNA (O DNA do Inovador).

Depois de entrevistarem fundadores e CEOs de companhias como Amazon, Apple, Skype e Google, eles apontaram que o comportamento das pessoas mais inovadoras do mundo está ligado a 5 habilidades:

1. Capacidade de associação

As associações acontecem quando o cérebro tenta processar informações em sequência, dando-lhes lógica e coerência. Assim, são descobertas conexões entre questões que pareciam isoladas.

As pessoas mais inovadoras, segundo os autores de The Innovator’s DNA são aquelas que enxergam associações que não são vistas pela maioria das pessoas.

2. Questionamento

Pessoas com maior potencial de inovação tendem a não ficar com dúvidas. Elas propõem novas ideias e questionam quais efeitos elas provocariam, buscando a todo momento entender como as coisas são e por que são daquela forma.

3. Observação

Para alcançar um potencial criativo maior e ser capaz de propor novas ideias, é preciso ter perfil observador e detalhista.

A partir dessas observações e dos questionamentos que são feitos, há espaço para o surgimento de inovações.

4. Networking

Ainda que algumas pessoas sejam capazes de ser criativas com ideias exclusivamente próprias, aquelas que têm maior potencial para a inovação são as que testam ideias a partir de uma ampla rede de contatos. 

E não basta buscar networking apenas com as pessoas que estão próximas e tendem a ter a mesma linha de raciocínio. É preciso buscar contatos que apresentam diferentes bagagens culturais e perspectivas, para ampliar a possibilidade de surgirem propostas mais ousadas.

5. Experimentação

A criatividade envolve avaliar a viabilidade de novas ideias. Ou seja, colocá-las em prática. As pessoas mais inovadoras experimentam as suas ideais constantemente, sempre pensando em novas hipóteses.

De acordo com os autores de The Innovator’s DNA, a reunião dessas cinco habilidades é um roteiro para ampliar o potencial criativo e criar ideias de negócio realmente inovadoras, como aquelas dos empresários entrevistados para a produção do livro.

Como é possível desenvolver a criatividade

Como vimos até aqui, é possível aprender a ser mais criativo, assim como há habilidades específicas que ajudam a aumentar nosso potencial de termos novas ideias e conseguir colocá-las em prática. Mas, afinal, o que é possível fazer para desenvolver a criatividade?

Os pesquisadores que citamos aqui e outros estudiosos a respeito desse tema indicam que há uma série de ações a serem feitas para desenvolver o potencial criativo. A seguir, listamos algumas delas.

Aprenda coisas novas

Um dos fatores que ajudam a desenvolvermos nossa capacidade de criação é ampliar o leque daquilo que aprendemos. 

Ao nos arriscarmos em novas atividades, seja culinária, uma prática esportiva ou até mesmo usar uma nova ferramenta de trabalho, somos obrigados a pensar em quais são as melhores formas de atingirmos sucesso naquela tarefa. 

Dessa forma, somos obrigados a testar novas hipóteses e explorar caminhos alternativos para resolver problemas. 

O desafio constante a aprender coisas novas aumenta o repertório de ideias e proporciona oportunidades para a descoberta de habilidades que até então estavam adormecidas.

Busque desenvolver aquilo que é prazeroso

Segundo a norte-americana Teresa Amabile, professora da Harvard Business School, “as pessoas são mais criativas quando fazem algo que amam”.

Isso não quer dizer que não possamos aprender coisas novas, mas que ao trabalharmos com algo que nos proporciona algum prazer temos uma tendência maior de engajamento.

Consequentemente, temos maior interesse em buscar novas soluções e desenvolver melhorias naquilo que já vinha sendo realizado.

Seja observador, questione e analise diferentes cenários

Enquanto trabalhamos, há uma tendência de focarmos naquilo que precisamos fazer, sem observar o ambiente ao redor. 

Ao realizar uma atividade, busque observar tudo o que está envolvido, questione se há melhores formas de executá-la e analise diferentes cenários. 

Esse é um importante caminho para encontrar falhas a serem corrigidas e pontos que podem ser aprimorados.

Não tenha medo de errar

Um dos maiores empecilhos para a criatividade é o medo de errar. Esse receio impede que haja qualquer iniciativa em experimentar algo “fora da caixa” e reduz drasticamente o potencial de inovação. 

Busque testar novas formas de fazer alguma atividade e considere que não há certo ou errado, mas sim possibilidades diferentes.

Tenha momentos de descanso

A busca pelo aumento da produtividade é algo comum a praticamente todos os profissionais. Entretanto, é preciso compreender que não devemos nos dedicar exclusivamente ao trabalho, sem reservar momentos para hobbies e outras atividades.

O comprometimento excessivo ao trabalho pode causar danos à saúde mental e também ao corpo, o que afetará sua capacidade de inovar e buscar novas soluções para problemas que venham a surgir.

Confira também: Como alcançar a qualidade de vida no trabalho remoto

Como potencializar o desenvolvimento da criatividade

No mundo corporativo, dois fatores são fundamentais para aumentar o potencial de inovação de uma empresa: ambiente e liderança.

Proporcionar ambientes que dêem liberdade aos colaboradores para se expressar totalmente, sem a colocação de barreiras, é imprescindível para que haja o surgimento de novas soluções.

A criação desses ambientes passa diretamente pela atuação de líderes que mantenham canais abertos de comunicação, reconheçam iniciativas inovadoras e desburocratizem processos.

Quando há, efetivamente, espaço para a criatividade, as companhias ficam mais próximas de encontrar novas soluções, sobretudo em momentos de crise. Além disso, essas empresas passam a contar com funcionários mais engajados e produtivos.

É importante manter em mente que a capacidade de inovação é fundamental para manter o grau de competitividade de qualquer empresa, independentemente do seu mercado de atuação.

Aproveite para conhecer 7 cases de empresas que passaram pela transformação digital.