A partir do momento em os colaboradores de uma empresa não estão trabalhando todos num mesmo local, é possível manter uma cultura organizacional sólida? Com a adoção do trabalho remoto, o que deve ser feito para que os valores da empresa nunca se percam?

Para responder essas perguntas, conversamos com Rafael Damasceno, co-fundador da Supersonic, empresa brasileira focada em aceleração de negócios através de Otimização de Taxa de Conversão.

A Supersonic adotou o trabalho remoto desde o dia de sua fundação e foi classificada como Great Place to Work. No quarto episódio do Digicast, Rafael Damasceno compartilha as experiências e aprendizados com a criação de uma cultura organizacional em uma empresa remota.


Para ouvir a quarta edição do Digicast, basta usar o player acima. Se preferir, você pode ler a transcrição da entrevista feita por Pedro Renan, CEO da Digilandia, logo abaixo. 


Bem-vindos ao quarto episódio do Digicast! Sou o Pedro, CEO da Digilandia e da agência Papoca e seu host. Estou muito feliz, hoje aqui com Rafael Damasceno, da Supersonic. Bem-vindo, Rafael!

Olá, Pedro e pessoal. O prazer é meu. Obrigado pelo convite. Estou muito empolgado com nosso papo. Vamos ver como conseguimos ajudar todo mundo.

Tenho certeza de que você ajudará bastante. Hoje, o centro principal do nosso papo será como criar uma cultura organizacional em uma empresa remota.

Rafael, a Supersonic é uma empresa 100% remota, apesar de haver escritório em Belo Horizonte e São Paulo. Recentemente, vocês foram nomeados Great Place to Work. Isso é fenomenal para qualquer empresa, imagine sendo uma empresa remota. Gostaria de começar a entender como foi esse processo, se vocês já criaram pensando nisso ou se foi algo que surgiu no meio do caminho.

Com certeza, desde o dia zero, tínhamos essa preocupação e esse interesse em ser um lugar bacana de trabalhar, independentemente do certificado. E acho que isso estava claro na nossa cabeça desde o dia zero, porque, hoje em dia, o grande talento, as pessoas mais disputadas do mercado, fazem algumas exigências de qualidade de vida, de várias coisas além de salário. 

Queríamos isso não para a gente, mas para nosso time. Queríamos criar um ambiente de trabalho que fosse aquela oferta óbvia, para a pessoa querer vir trabalhar conosco. A gente sabe que o que a gente faz na Supersonic é complicado, é muito difícil achar alguém que tenha um pouco de todo o conhecimento que é preciso ter para fazer o que fazemos. Trazer talentos seria sempre um desafio. 

Por isso, quisemos não só somar as qualidades do trabalho remoto, mas não abrir mão de nenhuma outra vantagem do trabalho presencial. Sempre tivemos um esforço muito forte para isso.

No primeiro Digicast, conversamos com o Fernando. O tópico era liderança remota. Ele falava que não existe líder remoto bom ou ruim. Não importa se é remoto ou físico. Existe o líder bom e o líder ruim, independentemente de como você faz isso. Você acredita que a mesma coisa vale para empresa e para cultura? Não tem essa se é empresa remota ou física. O que existe são culturas boas ou ruins?

É isso aí, com certeza. Ao longo do trabalho, há muitas pessoas que têm medo do trabalho remoto, que muda muitas coisas. Realmente, muda muitas coisas operacionais. Mas, as regras básicas de liderança e cultura são as mesmas em qualquer lugar. Essa definição foi excelente. 

Realmente, um líder bom não passará a ser ruim se migrar do remoto para o presencial. E o contrário também. Se o cara é ruim no presencial como líder será no remoto, talvez ainda mais, porque é mais difícil ser líder no remoto. Enfim, continuará a ser ruim em qualquer tipo. A liderança e a cultura têm bases muito iguais, independentemente do tipo de trabalho.

Você falou que era uma preocupação desde o início ter uma cultura forte, um bom lugar para as pessoas trabalharem, independentemente de ser remoto ou não. Ao criar essa cultura, como foi esse embasamento para a criação dessa cultura? E quais foram os desafios para implementar isso no mundo remoto? Você sentiu alguma diferença ou não?

Tínhamos consciência de que cultura não seria criar um Powerpoint bacana e bonitinho, para depois compartilhar no LinkedIn. Seria muito em cima do ambiente proporcionado e das nossas próprias atitudes. A cultura seria muito mais um resultado do que a gente era e fazia como equipe do que simplesmente o que gostaríamos que fosse num Power Point. Essa consciência foi muito importante. 

Nessa questão de que a cultura seria resultado das coisas do dia a dia, tínhamos claro que para ter um dia a dia tranquilo, em que os projetos acontecem e os objetivos são atingidos, precisaríamos ter processo claros. Para isso acontecer remotamente, que é também importante no presencial, mas ainda mais no remoto, é preciso ter documentação de processos. 

As pessoas estão fisicamente sozinhas. Pode não ser tão fácil parar o colega do lado para tirar uma dúvida, onde pegar um arquivo ou saber como resolver uma demanda específica. Sabendo disso, sempre tivemos investimento de tempo em documentação de processos, mas também de forma simples e intuitiva. Se você sai documentando em muitos arquivos, espalhando em diversas pastas, ninguém lembra onde deixou, isso dificulta muito e as pessoas acabam ignorando os processos, porque a documentação está bagunçada.

Outra coisa que dá muito trabalho e atrapalha as pessoas a seguirem processos claros é a documentação estar desatualizada. Isso é também um problema clássico na maioria das empresas. Há processos documentados em Google Docs, em planilhas, mas algo que foi documentado há três anos e hoje já se faz totalmente diferente. 

Um desafio grande que temos diariamente e demanda investimento de tempo é documentar processos de forma clara, objetiva e intuitiva. E também manter isso atualizado. É difícil, mas fundamental para uma empresa remota funcionar sem a sensação de caos.

Concordo e vai até na linha da provocação sobre o Powerpoint no LinkedIn. Se posto isso, daqui seis meses, provavelmente, não será da mesma forma, porque entraram novas pessoas, mudaram processos e aquilo fica perdido.

Ainda mais se é uma empresa jovem, que pode pivotar a qualquer momento, estar sempre se ajustando. E tem de estar. Numa empresa nova que está validando conceitos, se você olhar para um documento de seis meses atrás e ele ainda valer, sem nenhuma necessidade de ajuste, isso é um problema na verdade. Tudo tem de se ajustar sempre.

Há uma coisa que não sei se você concordará comigo. Vejo muitos empreendedores se orgulhar quando funcionários dizem que gostam de trabalhar na empresa porque têm uma série de benefícios, ping pong, happy hour na sexta-feira, isso e aquilo. E são todos benefícios “supérfluos”. Não que não sejam importantes, mas me parece que não deveria ser o maior orgulho do empreendedor ter uma pessoa que trabalha ali porque ele dá drink ou cerveja ou tem uma sinuca. 

Deveria ser o que você falou: a replicação das atitudes, seja empatia, ser mais humano, colocar pessoas na frente do lucro, ter um ambiente onde as pessoas se desenvolvem como pessoas e profissionais. Talvez, aspectos mais importantes do que o micro do dia a dia. Até porque é uma proliferação, quase toda empresa terá isso. Deixa de ser um atrativo principal.

Não é que faz mal. Algumas pessoas até acham que faz mal. Não acho que necessariamente fará mal ter essas coisas supérfluas de dia a dia. Mas, pelo menos para os talentos, para as pessoas que têm mais opções no mercado, ter uma mesa de ping pong, deixar a cerveja para o cara pegar na sexta-feira, isso é uma relevância quase zero. 

Vai ser valorizado tudo isso que você falou. É o dia a dia, os valores da empresa, onde a empresa quer chegar. São os benefícios que realmente fazem diferença: salário e plano de saúde. São os benefícios que custam mais dinheiro, mas são os mais valorizados. E o profissional mais talentoso sabe disso. 

Isso já foi uma moda, mas, hoje, os talentos são pouco atraídos por essas coisas supérfluas. Acho que, aos poucos, as empresas estão prestando atenção nisso. O hype do ambiente descolado, da piscina de bolinha e tudo mais passou. A galera quer trabalhar num lugar com o qual se identifica e onde tem potencial de crescimento futuro e onde gostam. Isso tem pouco a ver com superficialidades.

Para deixar claro, não é que somos contra, mas não deveria ser fator principal de trabalhar num lugar.

Você falou que há muitas mudanças rápidas, principalmente quando a empresa está em constante evolução. Qual é o maior erro que você acha que aconteceu na Supersonic, principalmente na hora de disseminar a cultura? Houve alguma coisa que gerou fricção?

Uma coisa que subestimamos foi que cada pessoa terá desafios específicos e nível de dificuldade diferente para ser realmente produtiva e ter bom processo de trabalho remoto. 

Para mim, sempre foi muito fácil, muito tranquilo. Sofri mais com problemas do trabalho presencial, como interrupção desnecessária, distração o tempo todo, distância e perda de tempo no trânsito. Por causa disso tudo, sempre pensei em trabalho remoto. 

Quando abrimos a Supersonic, não tive dúvidas de que iria para o remoto e não tive dificuldades em me adaptar. Mas também sempre tive um cômodo exclusivo para trabalhar isso. 

Quando começamos a Supersonic, eu não tinha filho como tenho hoje. Posso dizer que dificulta mais mesmo. Não deixa de ser maravilhoso, mas é algo que gera dificuldades. Há problemas a mais para resolver. Enfim, sempre foi fácil para mim. Mas não quer dizer que será para cada pessoas. 

Cada pessoa tem seu contexto e seu jeito de trabalhar. No começo, demos como garantia que a adaptação ao trabalho remoto seria fácil demais. E não necessariamente é assim. 

Vimos pessoas terem dificuldade, algumas barreiras para a produtividade. Com o tempo, vimos que valeria ter papos, passar boas práticas e boas leituras. Por isso, é importante um projeto como a Digilandia, para espalhar boas práticas às pessoas que estão nessa transição, porque não é fácil para todo mundo. Vale a pena ajudarmos da melhor maneira.

Vocês acham que esse foi o maior acerto: ter essa empatia e entender que cada um terá uma curva de aprendizado diferente e um ritmo inicial diferente? Esse foi o maior acerto na divulgação da cultura?

Acho que talvez tenhamos dado sorte de valorizar isso demais. Se começasse errado, seria um problema grande. Entendemos que comunicação e também cultura interna, no trabalho remoto, são extremamente importantes. 

Muita gente acha que comunicação é algo para não dar trabalho, que é para acontecer organicamente, naturalmente. E não é bem assim. 

Se você larga a comunicação para acontecer organicamente, um monte de coisa deixa de ser comunicada. Muitas coisas são comunicadas do jeito errado. As pessoas começam a criar vários canais diferentes e, rapidamente, chega uma hora que ninguém sabe onde falar com quem. As interrupções desnecessárias do trabalho presencial passam a acontecer no remoto, e você perde uma grande vantagem do remoto. 

Você largar a comunicação para ser algo natural, que as pessoas sabem conversar uma com a outra, é uma fonte de muitos problemas. Desde o começo, sabíamos que a comunicação era para dar trabalho mesmo e que deveríamos considerar todos com uma tarefa do nosso dia a dia. Todo dia, está a tarefa de se comunicar bem, da melhor maneira com cada pessoa do time. 

Para a empresa funcionar, você tem de fazer a comunicação da melhor forma possível. E isso exigirá planejamento e regras claras. Dá trabalho, é chato, mas é chave no trabalho remoto. 

Já vi muitas empresas tendo dificuldades por falta de proatividade na comunicação, e sabíamos que isso poderia ser um grande campo minado. Na Supersonic, buscamos trocar ideias sobre quais canais de comunicação que realmente precisávamos, quando valeria a pena interromper uma pessoa e quando não precisaria. São inúmeras regras para facilitar o dia a dia.

Você tocou no ponto existencial. Comunicação é um dos grandes problemas do mundo. Se nos comunicássemos melhor, certamente teríamos muito menos problemas.

Falando sobre trabalho remoto, há o livro Remote, que destaca que temos de ser excelentes comunicadores. Temos de escrever muito bem, nos expressarmos muito bem, porque a probabilidade de dar ruído quando você não vê a pessoa é enorme. 

Outro livro que me ajudou muito se chama Your Perfect Right, que é sobre assertividade, como se comunicar melhor. Depois disso, vi como eu me comunicava mal, quando dava margem para interpretação ou que não me comunicava e ficava triste, isolado e com raiva.

O pessoal do Basecamp, do Remote, escreve muita coisa sobre trabalho remoto. Eles criam muito conteúdo legal sobre muita coisa. Vale a pena todo mundo de inovação e tecnologia acompanhar o que esses caras falam. Eles não só têm a ferramenta Basecamp, que é líder num mercado extremamente competitivo de gestão de projetos, como criaram o Ruby on Rails. São muito ativos em diversas áreas.

Uma coisa que lembro que eles escreveram em algum artigo à parte: se você escreve uma coisa na comunicação escrita, pode ser interpretada de várias maneiras, e a pessoa que recebe sempre interpretará da maneira mais agressiva possível. E assim começam vários ruídos desnecessários. Deve haver esse cuidado.

Um cuidado que temos, por ser uma empresa remota desde o dia um, é não enviar textos quando o assunto é complicado. Ou faço call por vídeo, para a pessoa ver minha expressão corporal, ver meu rosto e sentir meu tom de voz. 

Para assuntos menos delicados, tento mandar áudio. E, na pior das hipóteses, vou escrever. Se é manual, vamos escrever. Mas passamos por processos de revisão extensivos, com várias cabeças pensando, para garantir que não haverá margem para interpretação. Uma palavra pode mudar tudo o que você acabou de falar.

Se na comunicação ao vivo, às vezes, já há tanto ruído, imagine numa comunicação textual. Boa parte da comunicação está na linguagem corporal. É preciso ter muito cuidado na comunicação escrita.

Um dos motivos da criação da Digilandia é a crença de que haverá duas grandes rupturas. Uma é a digitalização, que falamos disso há anos. E a outra é o trabalho remoto. Acreditamos que são realidades que vieram para ficar e é uma semente que será difícil não crescer muito rápido. 

Dentro desse cenário que as empresas tiveram de se adaptar da noite para o dia, tanto para o digital quanto para o trabalho remoto, você acha que vale alguma mudança na cultura, revisitar alguns gargalos, principalmente nas empresas mais tradicionais? Ou não é o momento?

Tem de haver um equilíbrio. Infelizmente, essa virada para remoto e transformação digital aconteceu forçadamente, da noite para o dia para muita gente. Há muita gente no meio do turbilhão, não dá para parar e filosofar sobre processos detalhados. 

Acho que algumas coisas são simples e se forem definidas rapidamente tornarão a vida de todos mais fácil, dando tempo para todos trabalharem no meio desse furacão. Um exemplo é definir quais são os canais de comunicação da empresa, onde você encontra todo mundo, com quem você fala. Se você deixa isso aberto, vira uma bagunça. 

No Brasil, quando as pessoas ficam livres para escolher como se comunicar, será escolhido o Whatsapp, e isso gerará uma série de problemas. Às vezes, será uma conversa entre duas pessoas no Whastapp, e será uma informação que uma terceira pessoa deveria saber e não ficará sabendo. 

O Whastapp é uma comunicação quase interruptiva, porque deixa a notificação no celular da pessoa. É uma ferramenta rápida de se perder no que você respondeu ou não. Sou prova disso. Quem eu já fiquei sem responder no Whatsapp, peço desculpas. Sou péssimo para gerenciar coisas para responder. Acho que minha idade me dificulta para lidar com as interações em texto nessas ferramentas. 

O chat, em Whatsapp, Slack, Messengers, é uma ferramenta boa para conversas. Mas, para tarefas que exigem raciocínio, algumas pessoas pensando com calma, o chat não é uma ferramenta legal para isso. Às vezes, você terá 50 mensagens para cada um. Se fosse troca de e-mail, com poucos e-mails poderia ser mais rápido.

Também há questão de que cada um pode escolher um canal diferente para falar com cada pessoa, e a comunicação da empresa e a gestão de conhecimento já eram. Haverá gente conversando no Whatsapp, no Slack, pessoas no canal de áudio do Discord, outras em e-mail… Você não saberá onde achar quem e como falar com todo mundo ao mesmo tempo.

Uma coisa simples para definir canais de comunicação que mais fazem sentido para o seu time é o que falei da comunicação. Sei que todos quando fazem uma pergunta ou mandam uma mensagem esperando uma resposta gostariam que a resposta fosse imediata. Mas isso é um desejo em 99% das vezes, mas não é uma necessidade de ter a resposta imediatamente e em tempo real. 

Quando não precisamos da resposta imediata é melhor escolher uma comunicação não interruptiva. Podemos usar o termo assíncrona. Uma mensagem que não precisa interromper o foco da pessoa com quem você quer se comunicar. Dar preferência à comunicação assíncrona, sempre que possível, é algo que faz muita diferença na produtividade de um time. Parece bobagem, mas faz muita diferença na qualidade e em quão boas são as entregas do seu time.

Outra coisa que torna tudo mais simples é as pessoas desapegarem de microgerenciamento, de controlar cada coisa, de como cada minuto é gasto. Isso só cria ambientes tóxicos, rivalidades, e não aumenta produtividade de ninguém. Ninguém trabalha oito horas exatas, inclusive quem gerencia o time. Quem não está cansado de dar alt+tab no trabalho presencial? 

Não existe isso de saber como cada minuto foi gasto. Isso toma muita energia de quem está gerenciando o time, não aumenta a produtividade e prejudica a cultura.

Se você sente necessidade de microgerenciar as pessoas é porque você não confia no seu time. Portanto, o buraco é muito mais embaixo. Abrir mão do microgerenciamento libera estresse e tempo de todo mundo para produzir mais. 

Comunicação em canais claros e comunicação menos interruptiva possível são coisas básicas que não tomam tempo para ser oficializadas e vão liberar tempo para todo mundo sobreviver nesses tempos de grandes mudanças como na pandemia.

Tenho visto muita gente com chefes pedindo memorando para saber o que as pessoas estão fazendo. Recomendo todos a ouvirem o podcast 1, onde falamos sobre liderança. 


E o que tenho falado para pessoas que convivem com esse tipo de situação é que o chefe deve se adaptar e ouvir essas dicas. E do lado do liderado, se seu chefe confiava em você e dizia que você era sensacional, mas tem dúvida se você está trabalhando ou não, é porque ele não confiava. Se possível e houver condição, é o momento de trocar de trabalho, porque se torna muito tóxico. 

Se você confia em mim e eu entrego no prazo, não preciso dizer essencialmente o que estou fazendo.

É só nós que somos líderes nos colocarmos no lugar de quem é liderado. Como você se sentiria se seu líder deixasse claro que não confiava em você? É complicado.

Se você abre mão do microgerenciamento e passa a confiar no time, isso te obriga a ser um líder melhor, porque obriga a criar metas e formas objetivas de avaliar como cada pessoa contribui para a empresa e libera tempo para trabalhar, e não só vigiar as pessoas.

O trabalho remoto acaba muitas vezes sendo identificado como a maior qualidade de vida. A partir do momento que tenho mais tempo e não preciso pegar trânsito, posso ter mais hobbies, outros afazeres ou até relaxar mais.

Lembro quando trabalhamos juntos há muito tempo que havia o Márcio da Supersonic que, todas as vezes que ele defenderia um ponto, ele falava do Senhor dos Anéis, de uma série ou de um livro. Ficava encantado, achava que ele era uma enciclopédia. Era genial a forma como ele defenderia os seus pontos. 

Pegando tudo isso e indo ao ponto da cultura, qual a importância em ter esse hobbies, mais aprendizado em áreas diferentes? E o quanto ter uma equipe multidisciplinar ajudará em marketing, vendas, CRO e qualquer coisa dentro da empresa?

Isso é absurdamente fundamental. Acho que isso é muito menos discutido do que deveria ser. Acho inclusive que nossas lideranças públicas, prefeitos, governadores e etc, deveriam incentivar muito mais o trabalho remoto. Até de rir você imaginar alguns setores públicos tentando trabalhar remotamente. É um pessoal que torce muito o nariz para isso, mas o trabalho remoto traz inúmeros benefícios coletivos, para a sociedade e para o mundo.

Com pandemia, estamos vendo informações de como a poluição diminuiu, como a qualidade de vida aumentou. Só de as pessoas trabalharem mais de casa já há vários benefícios indiretos no meio da pandemia. Nisso já há um benefício gigantesco, da melhoria do ar, de várias coisas públicas.

Com as pessoas tendo mais tempo para cuidar de hobby, ficar mais com a família, há menos pessoas com problemas psicológicos e psiquiátricos, que geram menos custos para o sistema de saúde público, o que também é fundamental em qualquer país. 

Entre as várias coisas que o poder público me irrita, uma é esse total desleixo em ter incentivo para o trabalho remoto. Não quero desconto em imposto. Falo de incentivos em informação, para que setores públicos e empresas privadas tenham para adotar o trabalho remoto, o que seria bom para todo mundo.

Dito isso do coletivo, feito o desabafo. Há alguns dados na página de trabalhe conosco da Supersonic, em que juntamos alguns dados interessantes sobre pesquisa de trabalho remoto. Os benefícios individuais são coisas que pouca gente sabe. Se fosse mais compartilhado, haveria mais pessoas pressionando para termos mais trabalho remoto. 

Por exemplo, 42% de quem trabalha remotamente afirmam que estão comendo de forma mais saudável do que quando trabalham em escritório tradicional. Olha o aumento de produtividade e diminuição de custo de saúde! 

Das pessoas que trabalham remotamente, 45% afirmam conseguir dormir mais. Outros 35% se exercitam mais do que nos escritórios tradicionais. E 82% dos trabalhadores remotos apresentam nível de estresse menor. 

É a ciência. Há muitos estudos científicos que indicam que as pessoas vivem mais e melhor no trabalho remoto. São coisas que têm de ser mais discutidas.

Outro dado: 91% dos trabalhadores remotos são mais produtivos ao trabalhar fora do escritório. Esse papo clássico de que as pessoas não trabalharão em casa é problema cultural da empresa ou uma equipe de liderados que não têm confiança do líder.

Quem defende trabalho presencial não é possível que já não teve um dia que pensou que havia tantos problemas a serem resolvidos que deveria trabalhar de casa. Esse é o sintoma clássico de que ir ao escritório não é o jeito de gerar mais valor para a sua empresa e ser mais produtivo. 

Essa questão de ter mais espaço para qualidade de vida, para hobbies, para evoluir profissionalmente que seja, estudar uma coisa nova é muito valioso e merecia mais destaque.

Se há alguém que é do governo ou conhece alguém do governo, faça esse podcast chegar até lá para esse desabafo ser mais divulgado. 

O Remote sugere que você pergunte a um funcionário qual o horário em que ele é mais produtivo dentro do escritório e, provavelmente, ele dirá que é quando não tem ninguém lá, antes que os outros cheguem. E aí você verá que já há um problema. 

Antes de irmos ao próximo ponto, queria voltar só à questão da importância de uma equipe multidisciplinar. Não necessariamente a formação, mas o conhecimento. Eu nunca me formei, mas fiz milhares de cursos por fora, estudei e acabei de indo para um caminho. O quanto não focar onde a pessoa estudou pode ser mais importante?

Concordo totalmente. Para mim, o cenário de sua própria experiência é isso mesmo. A formação acadêmica importa muito pouco. Para a imensa maioria de pessoas que já liderei, não faço ideia de onde elas se formaram, a faculdade onde estudaram, onde fizeram pós. Eu me importo muito mais com background, a experiência, o que a pessoa já produziu, quais conhecimentos ela combina.

Especialmente no caso da Supersonic, que fazemos CRO, otimizar conversão envolve conhecimentos que são muito distantes um do outro e são muito complementares para o trabalho. Usamos muitos conhecimentos que vêm de administração, de publicidade, matemática, de filosofia, de neurociência… Qual curso formará uma pessoa para todas essas coisas? 

Tenho certeza que, para a maioria dos desafios inovadores que as empresas têm, não existe a pessoa formada em determinada coisa. Para quem está realmente inovar e criar algo novo, isso raramente acontece.

Uma vez vi uma pessoa de RH da Netflix falando que, rapidamente, eles desistiram de procurar uma pessoa com formação específica, porque os problemas que eles têm lá não existiram em lugar nenhum. Portanto, eles precisavam de pessoas inteligentes e conhecimentos complementares, em que um ajudava o outro que ajudariam a responder esses problemas.

Isso já é uma realidade e não vejo caminho de volta.

Se você pudesse dar uma dica de livro, qual seria? Pode ser de empreendedorismo, conhecimento pessoal ou qualquer outras coisa que você achar relevante.

Já que citamos os caras algumas vezes, vamos com os livros do Basecamp. O Remote é um livro muito legal. Para mim, é o melhor livro para quem quer se adaptar ao trabalho remoto. 

Há uma história engraçada de que o Remote saiu um pouco depois de termos criado a Supersonic. E foi muito engraçado que pegamos o livro para ler e vimos o que estava lá já estávamos fazendo. Foi a comprovação de que não estávamos malucos.

Livro Remote

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E eles têm outro livro que é sobre filosofia de trabalho e ajuda a ter o mindset que o trabalho remoto exige. É o Rework, um livro excelente que recomendo para todo mundo. Tem algumas provocações bem interessantes.

Rework

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Filme ou série, há algum que transformou você e ajuda a abrir nossa mente?

Estou com um filho de sete meses e faz tempo que não tenho tempo para isso. Mas, considerando os tempos que estamos vivendo, um documentário que até acalma as pessoas e mostra que a humanidade é um grande ciclo de coisas que já aconteceram no passado e voltam a acontecer chama A Segunda Guerra em Cores. 

Há várias curiosidades históricas, mas, no fundo, você vê como a guerra começou, quais eram os interesses reais e quais as decisões tomadas. Mostra muito que a humanidade é muito previsível e o momento me que estamos já estivemos no passado.

Neste momento de loucura, em que todos estão tendo muita ansiedade, assistam a esse documentário que ajudará a entender o que está rolando. No fim das contas, é só mais um dia.


Um complemento a isso não é uma série, mas um livro. O Sapiens também é genial como conta a história da humanidade. Muitos fatos são previsíveis e muitas sociedades obedecem à mesma sistemática. É um livro brilhante.

E dicas de blog? Há algum canal em que você se inspire ou consuma muito conteúdo?

Tenho tentado acompanhar muito nos últimos tempos um nicho de blogs muito legal que são os blogs de engenharia das grandes empresas inovadoras do mundo, as grandes startups e empresas líderes de seus mercados. 

Há vários muito bons e são legais de ver, porque são as pessoas na linha de frente dessas empresas com inovações absurdas e criando soluções muito complexas. Essas pessoas são mais transparentes do que eu imaginava. Os profissionais abrem o pensamento por trás, como os algoritmos e soluções de UX foram pensadas. 

Para citar nomes, dois que têm quantidade de artigos maior são o blog de engenharia do Uber e do Booking. Há muita coisa de inovação. Tenho curtido muito e aumentou muito a minha satisfação com leitura.

Para finalizarmos, é o momento jabá. Se você quiser falar da Supersonic, das suas redes… É seu momento para vender o bom e velho peixe.

Quem estiver interessado em aprender sobre como otimizar taxa de conversão, aumentar ao máximo a porcentagem de seus visitantes que são transformados em dinheiro, temos trabalho com todo tipo de indústria ao longo dos últimos anos. E há muito conteúdo gratuito sobre como trabalhamos CRO. 

Quem quiser contratar nossos serviços fique à vontade para acessar o site da Supersonic e ver como a gente trabalha, como podemos ajudar.

Dúvidas sobre trabalho remoto, estamos sempre nas redes sociais. Procurem Rafael Damasceno nas redes sociais.

Depois de saber mais sobre a criação de uma cultura organizacional numa empresa remota, veja todos os passos para implantar o home office em uma companhia.