Em tempos de pandemia, a desigualdade social se torna ainda mais evidente. Sem poder trabalhar diante da necessidade de fazer isolamento social, muitas pessoas têm dificuldade para se manter. Outras muitas nem sequer têm condições ideais para se isolar. Neste momento, surgem também diversas iniciativas para ajudar essas pessoas a combater a desigualdade, sendo vários desses movimentos liderados por mulheres.
Para falarmos a respeito da importância da liderança feminina na luta pela inclusão social, conversamos com Ana Balbachevsky, criadora da Feminist Club Store, uma loja que usa todo o seu lucro para ajudar organizações que combatem a desigualdade no Brasil.
Para ouvir a 16ª edição do Digicast, basta usar o player acima. Se preferir, você pode ler a transcrição da entrevista feita por Pedro Renan, CEO da Digilandia, logo abaixo.
Olá! Bem-vindos ao 16º episódio do Digicast. Sou Pedro Renan, CEO da Digilandia e da Agência Papoca e seu host.
Hoje, recebo a Ana Balbachevsky, da Feminist Club Store, para falar sobre liderança feminina e combate a desigualdades.
Seja muito bem-vinda, Ana!
Olá, Pedro. Obrigada pelo convite à Feminist Club Store, para participar desse episódio. Vamos lá!
Também estou muito animado. É um tema muito relevante e hoje ainda mais.
Ana, você criou a Feminist Club Store para ajudar no combate à desigualdade por meio da venda de camisas, bolsas, canecas e outros artigos. E todo dinheiro do lucro é doado para organizações que apoiam essa mesma causa.
Queria entender por que você decidiu criar esse projeto e em que momento você acha que a sociedade atual está no quesito de entender essas desigualdades.
Essa pergunta é legal até para apresentar um pouco o nosso projeto.
Na verdade, a Feminist Club Store veio de um desejo meu e da minha sócia, da Janaína, de continuarmos na luta pelo final da desigualdade no Brasil. Nós duas moramos na Holanda atualmente e nos encontramos pelo Instagram quando eu estava me mudando para cá. Tínhamos muitos assuntos em comum, ela já estava morando aqui e também veio com o marido para trabalhar aqui.
Foi bem no ápice da eleição do Bolsonaro e de todas as questões que estavam acontecendo no Brasil. Sabíamos que o povo que mais sofre começaria a sofrer ainda mais por conta de várias questões na política. O Brasil já estava em recessão e já era um momento delicado.
Pessoalmente, venho da área política nos meus estudos. Fiz relações internacionais na PUC e, logo em seguida, completei um mestrado em ciências pela USP, também em relações internacionais. Dentro desse mestrado, eu já estudava questões de gênero, tanto em relações internacionais quanto na política brasileira.
E a Janaína é feminista, também estudo muito sobre o assunto e se interessou demais. Ela já tinha tido aventuras de empreendedorismo por conta própria. E a gente queria ter aqui um projeto que continuasse nos ligando ao Brasil e ajudar a trazer um pouco das histórias locais e a questão da desigualdade na América Latina para os olhos da Europa.
O que acontece? É muito fácil esquecer que o mundo não é como a bolha europeia. É muito fácil achar que está tudo bem porque aqui você tem os seus direitos garantidos muito mais que em outros países.
Há uma igualdade entre homens e mulheres muito maior. Existe uma segurança para as mulheres andarem na rua, o que você não tem no Brasil, por exemplo. Portanto, é muito fácil para que as pessoas aqui esqueçam, por mais que a luta aqui esteja mais avançada, no Brasil não é, infelizmente, a realidade.
No Brasil, temos mulheres que recebem 70% do que o homem recebe. Há mulheres que recebem ainda menos. É uma situação em que aqui as pessoas detêm poder financeiro maior que no Brasil, podem ajudar projetos locais, mas é difícil encontrar onde fazer isso.
Vem também tendo um aumento da visão das pessoas da necessidade de investir seu dinheiro em produtos que não sejam produzidos em massa, que você saiba da onde vem aquele produto. Aqui na Europa, é muito comum ir ao supermercado e tentar comprar um produto que seja orgânico, que seja produzido localmente, que você sabe que não houve exploração no trabalho das pessoas que fizeram aquele alimento ou aquela roupa.
É um mercado em que entendemos que há espaço para esse tipo de ação. E, ao mesmo tempo, nós duas vivemos por um princípio em que queremos mudar as relações de poder. Não é nosso intuito e nossa vontade substituir o homem nas posições de poder e, sim, criar outros modos de relação, outros tipos de relação, tanto de trabalho quanto de política e convivência na humanidade como um todo.
Por isso, nosso projeto visa mandar todo lucro para projetos que já existem no Brasil. Estamos começando pelo Brasil. A ideia é expandir para a América Latina, mas começamos pelo Brasil porque é onde temos mais contatos e conhecemos mais projetos e de onde viemos.
A ideia é que consigamos fazer com que as pessoas vejam que esse tipo de trabalho é possível. Obviamente, queremos que a loja cresça e que tenhamos mais lucro, mas que esse lucro não seja para nos tornamos mais ricas e termos mais poder, e sim para que a gente possa compartilhar esse dinheiro e esse consumo com as pessoas que estão no Brasil.
Começamos ajudando a Winnie Bueno, que é uma feminista negra, brasileira e ativista. Ela tem um projeto que chama WinnieTeca, em que ela ajuda pessoas negras que não têm acesso a livros a conseguirem livros. Ela faz o “match” entre pessoas que querem doar livros para as pessoas negras no Brasil.
É sempre assim. Sempre vamos buscar um projeto que vise mudar o status quo e ajudar as pessoas que têm mais necessidade no Brasil.
Acho que o momento é certo, justamente porque há pessoas na Europa que buscam investir seu dinheiro em produtos que ajudem a diminuir a desigualdade, produtos que são chamados de fair trade, ou seja, que não tenham nenhum tipo de exploração na linha de produção. E fazemos justamente isso. Nosso projeto é todo locally sourced. A gente sempre procura trazer produtos que são feitos na Holanda e produzidos na Europa em si. E a ideia é reverter todo nosso lucro para causas.
É daí que surgiu e por isso que acho que o momento é propício. Foi daí que surgiu a nossa ideia.
Muito interessante, tanto a sua história quanto a da sua sócia e do projeto em si. E saber de onde vem o trabalho, o artigo, como ele é feito e para onde vai, além de ter essa transparência, é determinante até em como e quando as pessoas vão comprar os produtos.
Há um outro podcast que é muito citado aqui no Digicast, que é o Master of Scale, com o Reid Hoffman, que é fundador do LinkedIn, e há um episódio com o CEO da Charity:Water, uma ONG que arrecada fundos para achar água, construir poços e levar água potável à África. É muito legal esse episódio. Recomendo todo mundo a ouvir.
E o grande mote dele para angariar fundos é justamente a transparência. Ele tinha duas contas separadas, uma da empresa e outra só das doações. Ele nunca mexia nisso. Há um app, em que todo mundo pode ver. Então, incentivava muito mais as pessoas, porque, invariavelmente, há o preconceito de não saber para onde vai o dinheiro. Portanto, essa questão de ser muito transparente facilita muito.
Você já falou um pouco, mas gostaria de entender quais são os maiores desafios que você está encontrando nessa empreitada, seja de convencer as pessoas a comprar ou até um desafio ainda maior que, teoricamente, não deveríamos ter, que é convencer as pessoas a entender que, de fato, existe desigualdade. Há pessoas que acham que vivemos num mundo perfeito e, obviamente, isso não é real.
Para começo, o primeiro desafio foi definir qual formato teria nosso projeto, porque a ideia é que não queríamos ser mais uma empresa, já que não queremos enriquecer com esse projeto no sentido de que o lucro fosse voltado para a gente. E ele seria voltado para projetos. E será que deveríamos fazer uma ONG?
O problema, especialmente para mim, é que a ONG sempre dependerá de doações. Como vivemos num sistema capitalista em que quando investe dinheiro em algo, você espera algo em troca, é muito difícil começar e manter o fluxo de caixa de uma ONG. Por mais que você ache que ao depositar o dinheiro em uma ONG está fazendo o bem, mas você não recebeu nada em troca.
É óbvio que várias ONGs, hoje em dia, tentam inovar. Assim, elas criam um projeto que ao investir numa ONG, você receberá um mailing, um bichinho de pelúcia em casa, vou adotar um cachorro.
Por isso, pensamos em criar um produto físico em que as pessoas possam olhar e comprar uma blusa justamente por vir com toda a questão de saber de onde veio e saber para onde vai.
E aí vem também a questão da transparência. Também colocamos todos nossos accountings e todas as nossas informações sobre nossas finanças no nosso Instagram. Portanto, as pessoas podem ver todo o dinheiro que entrou, para onde ele foi, quanto sobrou e para onde que ele irá também.
Sinceramente, os nossos maiores desafios são que nenhuma das duas têm experiência nessa área de retail, nenhuma das duas vêm dessa área como profissional. A Janaína é formada em recursos humanos e trabalhou muito tempo como recrutadora. E venho da área de startups, de tech. Trabalhei em operações e hoje trabalho com RH também.
As duas têm uma noção de business, porque ela já teve a própria empresa e eu já trabalhei em diversas startups diferentes, de tamanhos diferentes. Portanto, tive contato com o começo, meio e fim de um negócio.
É difícil quando é seu negócio e precisa entender por onde começa. Então, o maior desafio é que resolvemos fazer e estamos aprendendo um pouco na marra.
Atualmente, com a crise do novo coronavírus, posso dizer que o nosso maior desafio é, com certeza, a questão do marketing digital, entender nosso ROI, nossos dados, onde encontrar esses dados, como mexer neles. Isso é um desafio, porque dependíamos muito de feiras ao ar livre e estão todas canceladas agora.
É um momento de sentarmos e aprendermos um pouco mais sobre esse mundo do mercado digital.
Bem legal. Legal para mim, que estou ouvindo. Para você, que está na luta… No começo da startup que tive aqui em São Paulo, a Logovia, não tinha tanto dinheiro e morava num hostel com 20 pessoas, dividindo quarto. Não tinha tanto dinheiro para comer e trabalhava de garçom no fim de semana. Fui contar essa história para um investidor e ele respondeu “que legal”. Disse “legal para ti, que está cheio do dinheiro”. Para mim, não tinha nada de legal.
É interessante esse momento, porque sempre colocávamos que sentaríamos em algum momento e fazer um curso sobre marketing digital e aprender. Chegou toda essa pandemia mundial e vimos que era isso ou não venderíamos.
Agora é a hora, não tem jeito.
Com esse ganho de desafio, de não ter tanta experiência, você consegue apontar um erro que você e a Janaína cometeram ou em outros startups que trabalhou? Qual o maior erro que você acredita que cometeu até agora e que poderia gerar aprendizado para quem está ouvindo?
É uma faca de dois gumes. Numa startup ou pequeno começo, você tende a fazer as coisas com certa pressa e fazer com que as coisas saiam. Lembro muito quando trabalhava na Logovia que falávamos que era melhor feito do que perfeito. E isso levo para a vida.
Um dos nossos maiores erros até hoje foi no ano passado, quando sentamos e que decidimos que tocaríamos esse negócio para a frente juntas. Precisávamos ter estoque para o Natal, que é a época que você mais tem mercados ao ar livre. As pessoas estão na rua porque querem comprar, precisam dar presentes para o tio ou para a tia, para alguém no trabalho, para o amigo secreto.
Era o momento em que tínhamos de estar presentes no maior número possível de feiras, até para testarmos um pouco nosso inventário e entendermos quais são as blusas que mais vendem, o que dá certo e o que está errado. Fomos no teste e no que daria.
Pegamos um empréstimo, fizemos nosso primeiro inventário, o nosso primeiro grande pedido. Olhando para trás, vejo que poderíamos ter pegado menos opções e mais números de roupas. Outra coisa que queremos é ter tamanhos para todos. Não queremos que seja P, M e G, porque sabemos que os corpos de homens e mulheres varia muito. Então queríamos ter para servir desde o XXL até o XXS.
Nosso maior erro foi não ter pensando duas vezes. Fizemos uma estampa especial para o Natal, que foi muito legal, mas não vendeu tanto quanto achávamos que venderia. Decidimos testar, mas não precisávamos testar tanto assim.
É sempre uma faca de dois gumes. Se você não faz, não tem como saber se daria certo ou não e não aprenderia com esse erro. Mas, ao mesmo tempo, é sempre aí que você pode dar um passo maior do que consegue acompanhar.
No fim, pelo menos não temos um investimento por trás milionário que temos de pagar de volta.
Para quem não sabe, trabalhamos juntos há sete ou oito anos, na época da Logovia.
Para compartilhar também, nessa questão de erro, tínhamos um fluxo online muito grande de tráfego no site, mas tínhamos uma ideia de que deveríamos vender self service. As pessoas deveriam entrar no site, escolher o que comprar, pagar e fazer. E era um produto muito complexo de fazer dessa maneira. Portanto, precisava de um atendimento mais humano, de uma explicação.
Tínhamos um chat online e você falou que havia muitas pessoas no chat e sugeriu que criássemos uma área de vendas, pagássemos uma comissão para gerar ânimo para vender. Escutei, achei interessante, mas não levamos para a frente e continuamos com a ideia de que deveria se vender sozinho. Depois, vimos que fazia total sentido o que você falava e, se tivéssemos criado uma máquina de vendas, teríamos crescido e achado resultados muito melhores.
É muito importante entender qual seu número, qual o seu mercado e o seu consumidor. Há empresas que conseguem vender remotamente, sem nenhum time de vendas, mas há empresas para as quais isso não é viável.
Falando sobre erros e dificuldades, qual foi o seu dia mais difícil, seja como empreendedora ou ao ajudar essas ONGs, conversar com muitas pessoas? Houve um dia em que você viu tanta desigualdade e tanto preconceito que foi um dia difícil de lidar?
Seria legal eu falar um pouco da minha experiência pessoal. Quando falamos sobre desigualdade, sobre machismo, racismo, é muito difícil quando você vem de um lugar muito privilegiado, que é o meu caso.
Sou mulher branca, que vem de uma família de intelectuais. Meus pais são dois professores da USP. Nunca faltou nada para mim. Nunca tive dificuldade de acesso. Por mais que, obviamente, eu passe por situações de machismo no dia a dia. Já passei por situações péssimas no trabalho, porque o ambiente no Brasil é altamente masculinizado.
Vou compartilhar um pouco dessa situação, porque acho que vai ajudar as pessoas a entender o tanto que a gente não entende e está tudo bem, desde que você, como pessoa, não vai entender nunca algumas coisas e saber o que é passar por aquela situação.
Houve um dia em que estava com uma amiga minha. Ela é negra, da periferia, teve uma vida completamente diferente da minha. Para entenderem, a gente estava num momento de vida muito parecido. As duas estavam trabalhando em empresas legais, tinham um salário bom. Inclusive, eu estava sem dinheiro no fim do mês e ela que bancou a minha viagem. Fomos juntas para o Rio de Janeiro.
Estava tudo bem, tínhamos saída o para jantar e tomar uma cerveja. Na volta, começou uma discussão besta sobre é assim ou assado. Essa discussão foi se acalorando, até que uma hora que ela olhou para mim e falou: “Está certo, Ana. Você é branca e sabe mais do que eu”.
Aquele momento me destruiu por dentro, porque foi naquele momento que percebi que eu já lia sobre o assunto, tentava entender sobre o assunto, mas não tinha sido jogado na minha cara de uma forma tão grotesca e tão forte o quanto faço parte desse sistema sem querer.
Obviamente, eu Ana não acho que é justo e não acho que é assim que você conserta as coisas. Não é individualizando as questões. Não é a Ana ou o Pedro. Temos de olhar para a estrutura e para a sociedade como um todo.
Mas foi naquele momento que eu, realmente, falei “caralho”. Sabe quando uma coisa é jogada na sua cara e você não tem como negar, não tem como fugir disso? Desde então, conversamos. Continuamos muito amigas. Ela é uma das mulheres que mais admiro em questão de valores, de pessoa, de bondade, de caráter.
É importante as pessoas entenderem que não é preciso individualizar a culpa, individualizar a dor. Você não precisa se sentir culpado por todos os males do mundo. Mas é importante perceber o seu papel dentro dessa estrutura. Quem é você? Quais são os seus privilégios?
Nessa questão do coronavírus, o tanto que estou vendo de pessoas que está dispensando a empregada doméstica sem pensar duas vezes. “Eu pago ela por dia e, se ela não está trabalhando, por que eu vou pagar?”. Às vezes, ela depende daquilo.
É uma questão de ter um pouco mais de empatia, se enxergar e entender o seu papel. Não significa de forma alguma ficar se culpando e achando que vai salvar o mundo sozinho ou que é todo problema do mundo, as você tem de entender qual o seu papel nesse problema. E, a partir disso, você pode começar a entender como fazer para mudar.
Esse foi um dia, pessoalmente, muito difícil. Chorei e foi muito pesado, mas também foi muito bom. Foi um divisor de águas na minha vida.
Se todo mundo parar para pensar um pouco sobre como leva o dia a dia e todas as suas relações, você perceberá também. Percebi que por mais que fossemos iguais, nós nunca seríamos iguais dentro dessa sociedade e dentro das estruturas. Nunca vão tratar ela e eu da mesma forma. Infelizmente.
Também sou muito privilegiado da família que tive. Apesar de ter tido uma dificuldade aqui ou ali, nunca me faltou nada. E não sofro esse preconceito ou terei problemas de vestimenta. Posso me vestir como eu quiser. As mulheres já têm isso mais latente.
E temos de, realmente, tentar entender o outro lado. Já aconteceu comigo, em São Paulo, de estar chovendo, eu estava de casaco e capuz, para me proteger da chuva. E havia um amigo meu negro da mesma maneira. Entrei no supermercado. Na minha cabeça, nem penso o que vai acontecer. Só entro, porque não vai acontecer nada comigo. Entrei e, daqui a pouco, o segurança estava seguindo ele. E estávamos em condições completamente iguais.
Gosto muito de rap e é onde busco muita inspiração e “tapas na cara”, porque é uma realidade que nunca vou viver nem vivi. Tento entender, até para ver que isso existe, que isso dói.
Houve uma entrevista do Ronald Rios com o KL Jay, do Racionais, que é um dos meus grupos preferidos. O KL Jay falou que entrou no Starbucks e um segurança questionou o que ele estava fazendo ali, se era entrega. E aí veio um outro cara que trabalhava lá e falou: “não faz isso. É o KL Jay, do Racionais”.
O segurança pediu desculpas por não ter reconhecido. Ele respondeu ao segurança: “você acabou de piorar tudo. Quer dizer que se fosse outra pessoa era normal ser racista? Só porque sou famoso terei privilégio?”.
É algo realmente complexo. Quem é privilegiado de cor, de raça ou financeiramente não vê, porque não está dentro da nossa bolha. Mas se tivermos um pouco mais de empatia, poderíamos viver num mundo melhor.
Avançando um pouco mais, indo para uma parte mais leve, qual foi o acerto que você teve dentro dessa iniciativa ou como liderança feminina?
Dentro do nosso projeto, o maior acerto e que temos insistido nisso foi a transparência.
Somos muito transparentes sobre de onde vem o dinheiro, para onde vai. Isso dá às pessoas que estão comprando com a gente e seguem no Instagram. Isso ajuda a criar uma comunidade em volta do nosso projeto.
A ideia é que esse projeto seja um fim em si só, mas um meio para outros fins. Que a gente consiga criar um fundo para financiar projetos na América Latina, que isso vire uma plataforma, onde as pessoas consigam compartilhar histórias locais e trazer isso para a Europa.
O maior acerto tem sido ser muito transparentes e humanizar o nosso discurso. É muito fácil, por exemplo, na pandemia do coronavírus, esquecer que, do outro lado da empresa e daquele negócio, existe uma pessoa.
Nosso discurso é muito humanizado na nossa página no Instagram. Colocamos quando estamos passando por dificuldade, quando não estamos bem ou quando estamos animadas. E isso tem sido muito bom para a gente, porque humanizamos o processo. E humanizar o processo é bom em todo lugar.
Quando você é um líder e se humaniza perante a sua equipe, você não fica fraco. Na verdade, as pessoas começam a te olhar como uma outra pessoa. E isso ajuda muito no convívio do dia a dia. As pessoas confiam mais em você, trazem questões que não trariam se vissem só um chefe, só uma pessoa para dar ordens.
Como líder, meu maior acerto foi na época em que eu era gerente de vendas e precisava contratar pessoas novas para a equipe e apostei numa pessoa que não tinha nenhum tipo de background mais técnico.
Ela não tinha muita experiência com aquilo, mas ela demonstrou tanta garra na entrevista tanta vontade no processo, que ela acabou se tornando minha melhor vendedora. Até hoje, se alguém me ligar pedindo recomendação, recomendo ela 50 mil vezes. E isso vale para todos os gestores.
Obviamente, há certas vagas que você precisará de alguém com uma tecnicidade específica para aquele produto, mas, muitas vezes, não é a técnica que trará resultados.
Muita coisa, você consegue aprender, desde que tenha bom caráter, seja uma pessoa dedicada, com vontade. E uma coisa não necessariamente puxa a outra. Acho que é sempre importante focar mais na pessoa do que 100% no currículo.
Acho que esses são os dois acertos que poderia falar.
No episódio 8, com o Carmelo da Fanatee, sobre lições básicas de negócio, falamos sobre contratação e ele tocou bastante nesse ponto. Normalmente, contratamos com foco em hard skills, que é a parte técnica, e demitimos as pessoas pelos soft skills, que é a parte não técnica.
Eu sinto isso no meu dia a dia. Na Agência Papoca, trabalhamos com SEO, produção de conteúdo e etc. e, muitas vezes, é mais fácil ensinar uma técnica de SEO, copywriting, de como escrever um bom texto e gramática do que ensinar jogo de cintura, atendimento ao cliente, trabalho em equipe, liderança, eloquência do falar… Há muitas outras coisas como essa aposta que você fez, em que olhou muito mais o soft do que o hard.
Pegando essa parte de Covid-19, pandemia, esse momento de quarentena, há muitas reportagens elogiando como a primeira ministra da Nova Zelândia, a Jacinda Ardern, vem combatendo a crise. Há também a Angela Merkel e várias outras pessoas dentro e fora da política que têm feito um trabalho incrível. Queria perguntar se há mais exemplos de mulheres que estão brilhando nesta crise ou brilhavam antes que deveríamos prestar mais atenção nelas?
Essa é uma ótima pergunta. Primeiro, é importante falarmos sobre o motivo de essas mulheres terem tido um desempenho melhor ou mais efetivo do que outros homens, como Trump e Bolsonaro, que preferem dando uma de herói.
Primeiro é importante falarmos que não é por ser homem ou mulher que é de certa forma. Nenhuma mulher nasceu mais bondosa ou colaborativa. Nenhum homem nasceu mais agressivo e menos colaborativo. Existe toda uma estrutura social que faça com que as pessoas sejam talhadas de certa forma.
E, dentro desse contexto, temos traços e jeitos que são considerados femininos e masculinos, e alguns são muito valorizados. Por exemplo, você é agressivo, atrás de resultados, bom de negociação. E há traços que são mais femininos, como cuidar, a colaboração, não ser tão agressivo, buscar cooperar e entender o outro.
O homem, em geral, é criado para ter muita segurança do que faz, com quem ele faz e como vai fazer. E a mulher precisa sempre trabalhar mais e tem uma necessidade de se provar, até para si mesma, maior que o homem.
Há um estudo que mostra que ao aplicar para uma vaga de emprego, o homem com 50% das aplicações já aplica, enquanto a mulher se não tiver 80% não vai aplicar.
Isso faz com que as mulheres e lideranças, podemos citar Alemanha, Taiwan, Nova Zelândia, Islândia, Noruega, Dinamarca… É óbvio que não podemos comparar o Brasil com esses países, porque, socialmente, o Brasil é muito diferente. Mas essas mulheres se treinaram muito mais para esse tipo de cargo do que os homens, como o Trump e o Bolsonaro.
Elas, realmente, tentaram ter um approach de colaboração, que as pessoas estejam atrás delas no que pretendem fazer. Não vão tentar brigar com o povo ou tentar mandar. Elas tentam explicar a razão do que elas estão fazendo, colocam claramente quais são as medidas e, ainda por cima, têm um plano de médio e longo prazo. Não são medidas que vão e voltam a cada dia, nem tentam entrar em guerra com seus próprios governos, como é o caso do Brasil.
Pessoalmente, tenho seguido algumas iniciativas muito interessantes de mulheres. A primeira é Se organizar direitinho, da Camila Di Cezar, que é head de RH da Meiuca Design. Eles criaram um projeto para ajudar empresas que estão precisando demitir a encontrar vagas para pessoas em empresas que estão contratando no Brasil.
A ideia é que se você organizar direitinho conseguirá colocar o funcionário que não está conseguindo pagar neste momento para trabalhar para uma empresa que está precisando de alguém.
Tem uma iniciativa que chama Mães da Favela, que é da Cufa. Hoje em dia, consegue beneficiar 30 mil mães com auxílio de R$ 300 por mês.
Você tem o G10 das Favelas, que criou parquinhos para ajudar as famílias a trazer comida. Há muita gente no Brasil que esquece que vamos começar a ter pessoas no Brasil que vão passar fome. As pessoas não terão acesso à comida, porque vivem do dinheiro que conseguem no dia para poder jantar.
Há uma iniciativa muito legal que chama Segura a Curva das Mães, que ajuda 732 mães do Brasil. Não dão apenas dinheiro, como ajudam como apoio psicológico.
E são todas iniciativas começadas por mulheres.
De política, sigo a Lana de Holanda. Ela era assessora da Marielle Franco e posta conteúdo muito relevante para a questão de luta, principalmente das mulheres trans do Brasil. E ela postou uma iniciativa muito legal, que chama Orgulho e Luta Trans. É um coletivo e se juntaram com o MTST, para levar cestas básicas às mulheres trans que estão em situação de prostituição do Brasil, porque se está todo mundo dentro de casa, o mercado de prostituição sofrerá muito.
Não é muito ortodoxo falar sobre prostituição num podcast de tecnologia, mas as pessoas têm de entender que o mercado não é só a empresa formal em que trabalham. O capital está em todo lugar. Existe o mercado de prostituição, e as mulheres que viviam com pouco dinheiro, pouco acesso a segurança e alimentação, agora estão em situação extremamente vulnerável.
Excelentes dicas. O mercado é um todo. O podcast se propõe a falar de transformação digital, trabalho remoto, qualidade de vida, tecnologia, mas somos seres humanos vivendo em sociedade e tudo isso conecta de alguma maneira. Quando vemos essa crise, normalmente, conseguimos ter um entendimento melhor como tudo é, de fato, conectado.
Tem um livro que li há algum tempo do José Saramago, as Intermitências da Morte. Ele fala que, no dia seguinte, ninguém mais morreu. Não há mais mortes. Você pensa que não muda nada, mas muda tudo. Se não tem morte, não tem Cristo, não tem ressurreição, não tem religião. Se não tem religião, não tem igreja. Se não tem igreja, acabou a fé do povo. Se ninguém morre, não tem cemitério nem plano de saúde. A economia inteira entra em colapso “simplesmente” porque ninguém morreu.
Vivemos num mundo extremamente conectado, seja do ponto de vista físico, sentimental, psicológico e de tudo que está vivendo. Com essa crise do novo coronavírus, você vê como um “simples vírus acabou com o mundo”. Tivemos de ter uma transformação ultra radical por causa de um vírus. É legal termos uma visão 360º, porque o mundo não é simples. Gostaria que fosse.
Se você pudesse deixar um conselho para quem ainda tem preconceito ou ainda não entende essas desigualdades que estamos abordando, o que você diria?
Primeiro de tudo, precisamos ter mais empatia, tentar se enxergar no lugar do outro. Às vezes, tentar se colocar no lugar que você não está.
Se você só tivesse dinheiro para jantar e amanhã não soubesse de onde vem seu dinheiro, o que você faria? Como seria sua vida?
Como seria sua vida se você morasse numa casa que não tem saneamento básico? O que você faria com a coisa mais básica do seu dia a dia que é ir ao banheiro? Como você se limparia? De onde viria sua água? Como você cozinharia o seu feijão?
É importante se colocar no lugar do outro e ouvir o outro também. A gente não se ouve mais. Gostamos de falar. Esse é um exercício que também tenho que fazer, que é ouvir o outro. Quando está numa conversa, você ouve o que o outro está falando? Ou você está apenas esperando a sua vez de falar?
Muitas vezes, nessas discussões, é tão importante estar certo que você não se dar o trabalho de ouvir, enxergar e tentar perceber que o mundo é muito maior que nossa sala, que a nossa ida de casa ao trabalho.
Se pudesse dar um conselho, seria realmente estar aberto a ouvir o outro e se colocar no lugar do outro. Falta um pouco disso nas nossas convivências e trocas do dia a dia.
Concordo 100%. No episódio 1, que tivemos com o Fernando sobre dicas de liderança, ele falou muito de empatia. Ele citou uma coisa muito curiosa, que, normalmente, as pessoas acham que empatia é se colocar no lugar do outro, mas com sua visão de mundo. Isso não é ser empático.
Empatia é se colocar no lugar do outro, mas com a visão dele. Aí sim você pode ter a chance de entender como ele vê o mundo, quais dificuldades que ele passa e compreender melhor o que ele está tentando dizer.
Para a fase final do podcast, falamos sobre livros, filmes, blogs e etc. Há algum livro que você recomendaria?
Sou de libra. Estava quebrando minha cabeça para encontrar um livro para indicar. Gostaria de indicar três.
O primeiro chama Feminismo e Política. Ele traz um pouco sobre o debate político de feminismo no Brasil. É importante você entender um pouco mais de onde a discussão sobre igualdade de gênero. Você tem de entender quais são os lugares que essa luta permeia.
Então vai desde o trabalho de casa, o lugar público, o lugar privado, como foi a jornada da mulher desde ser considerada uma propriedade até hoje, em que, na teoria, tem direitos iguais e direitos básicos e é considerada um cidadão completo, como seus parceiros homens. Esse livro é muito legal.
O segundo seria Sintomas Mórbidos, da Sabrina Fernandes. Esse é um livro que estou gostando muito de ler. Ela faz uma leitura dos problemas da esquerda brasileira, de onde eles vêm e quais as razões de termos, neste momento, o Bolsonaro no poder do Brasil. É muito legal e vale muito a pena.
E um para quem gosta mais de literatura e não quer ler um livro tão técnico, li e amei o que chama A Guerra não tem rosto de mulher. Esse livro é da Svetlana Aleksiévitch, que é ucraniana e ganhou o prêmio Nobel de Literatura. Ela é muito, muito boa.
São relatos sobre a Segunda Guerra Mundial na Rússia. São relatos de mulheres que lutaram na Segunda Guerra. Não somente ajudarão como enfermeiras e participaram da equipe de suporte, mas também foram artilheiras, armavam bombas. É uma leitura riquíssima. Não é uma leitura muito leve, mas, para mim, foi muito rápida.
Gosto quando tem assuntos diversos e livros que não são tão mainstream, porque dá a oportunidade de as pessoas conhecerem opções diferentes. E fazendo um jabá, já que você falou de libra e signo, temos um cliente que chama Astro Centro, com dicas de signos e mapa astral. Há muito conteúdo e é possível fazer consultas online.
Continuando… Uma dica de filme ou série sobre qualquer assunto que você achar legal.
Tem uma série muito legal que, em inglês, chama Ninguém tá olhando. É uma série brasileira, mas só assisti aqui (Holanda). É uma história sobre angelus, que formam uma organização no céu que cuida dos humanos.
Cada angelu tem um humano designado que tem de cuidar e tem de ajudar essa pessoa a passar pelo dia a dia dela.
Está no Netflix. É uma série brasileira, que se passa em São Paulo. Os atores são geniais.
A história é que 300 anos depois, essa organização recebe um novo angelu. Deus não havia fabricado nenhum novo angelu e é fabricado um novo, mas ele é um angelu questionador. E questiona tudo. A história começa a se desenrolar nisso, porque ele começa a questionar todas as regras da instituição. É genial.
E onde você consome conteúdo? Pode ser blog, podcast, Twitter, qualquer canal que você ache relevante para o pessoal buscar mais informação.
Gosto muito do Medium. Muito, muito. Não sei qual o valor a ser pago para mais acessos no Brasil, mas vale muito a pena. Primeiro, você apoia escritores do mundo inteiro que vivem disso. Então você consegue ter acesso a conteúdos diversos sobre todo assunto que quiser. Sigo muita coisa sobre feminismo, sobre política, mas também sigo sobre finanças. Tenho tentado melhorar como lido com meu dinheiro. É muito bacana.
Gosto muito do The Intercept e do Nexo, os jornais do Brasil. Sigo muito a Folha. Acho que tem acertado muito nos conteúdos.
Gosto muito do podcast da Folha, o Café da Manhã. Tento não fazer a primeira coisa do dia, porque, às vezes, é um pouco deprimente você ficar todo dia ouvindo notícias difíceis de digerir, mas é muito bom. O conteúdo é ótimo.
A Ilustríssima da Folha também é muito legal.
Há um podcast em inglês que chama Unhappy Hour, com o Matt Bellassai. Ele fica reclamando sobre as coisas, traz pessoas para reclamar de certos assuntos. Ele é um comediante. O podcast é muito bacana e sempre começa com as piores notícias da semana.
Tenho muito ouvido seu podcast, porque gosto muito também.
Que bom que você está gostando. Nessa pegada, gosto muito do Mamilos, é um podcast bem legal. Falei do Ronald Rios mais cedo. Ele tem um podcast também.
E de tudo isso que falamos, houve alguma pergunta que não fiz, mas que você gostaria de falar? Há alguma mensagem final?
Se fosse para deixar uma mensagem final, a Covid-19 nos deu a necessidade de olhar para o mundo de uma forma diferente e tentar enxergar formas diversas de fazer a mesma coisa. É um momento importante para que possamos começar medir até que ponto o jeito que as coisas estão é viável. E a maneira como nos comportamos, as nossas relações de poder, as nossas relações de consumo… Até que ponto isso é sustentável no longo termo?
O nosso projeto começou com o intuito de nos mantermos conectadas ao Brasil, a causas que são importantes para a gente e que vemos a necessidade de ajudar. Mas também vem da necessidade de olharmos para o mercado, para nossas relações e entender que existem outras alternativas. Existem formas de você conseguir se manter. Obviamente, todo mundo quer ter uma vida legal, uma vida saudável quer poder viajar no fim do ano, conhecer novos países e novas culturas. E isso não é possível para todo mundo. Isso claramente não é.
Hoje, quando você olha para o mundo, você vê que 1% da população mundial detém mais de 50% da riqueza no mundo. E isso é bizarro.
Começarmos a olhar para as pequenas coisas que podemos fazer, financiar um projeto legal, comprar de uma empresa que tem uma pegada diferente, que traz um produto que não passou por nenhum tipo de exploração…
Se você é homem, leia mais sobre o feminismo. Se você é homem e tem filho, deixe que ele chore. Vamos mostrar que o mundo pode ser diferente, que as relações podem ser diferentes, que não precisamos continuar nesse dia a dia de exploração e tristeza, de raiva e um querer ser melhor que o outro.
É possível homens e mulheres conviverem num ambiente seguro para todo mundo. O mundo seria muito melhor se meninos pudessem chorar e mulheres pudessem falar palavrão, e isso não fosse um problema.
Para terminar, um momento jabá. Se você quiser falar mais sobre a Feminist Club Store, o espaço é todo seu.
A Feminist Club Store vende blusas, canecas e também bolsas ecológicas, com mensagens empoderadoras para mulheres. O nosso foco é feminino, mas nossas blusas são unissex. E nossas mensagens não são, necessariamente, só para mulheres. A maioria é, mas também temos mensagens para mães e pais. Deem uma olhada no nosso Instagram, no nosso site e no nosso Facebook.
Também temos um blog, onde contamos um pouco sobre a situação do Brasil traz tópicos diferentes sobre os quais queremos conversar. Se você tem interesse em escrever para a gente, pode mandar mensagem. Queremos postar conteúdos de outras pessoas também. É tudo o mais colaborativo possível.
E se você puder comprar uma blusa, dê uma olhada na nossa loja. Compre para aquela mulher que você acha que precisa de uma mensagem para mostrar o quão foda ela é. Ou se ela já sabe que ela é foda, mas tem uma vontade de ter uma mensagem mais girl power, compre no nosso site e ajude a gente. Estamos hoje arrecadando fundos para ajudar o Casa 1, em São Paulo.
Para quem não conhece, Casa 1 é projeto para abrigar pessoas que foram expulsas de casa por causa da sua orientação sexual. Ela ajuda pessoas marginalizadas em São Paulo a terem uma educação um pouco mais formal, conseguirem ter um ensino mais técnico e se reerguer. Ela dá aula para essas pessoas e ajuda a encontrar um emprego e se manter sozinhas. Isso é muito importante.
Neste momento, todas as doações serão para ajudar pessoas em situações de crise na favela. Se você quiser compartilhar e entrar lá, compartilhe nosso site e nossas postagens. Entre em contato com a gente e nos ajude a crescer o projeto.
Aproveite para ampliar seu conhecimento sobre liderança e saiba como gerenciar equipes remotas e liderar pessoas a distância.