A pandemia de Covid-19 levou a mais de 1,2 bilhão de crianças em 186 países afetadas pelo fechamento de escolas devido à pandemia, de acordo com dados da Unesco (braço da ONU para educação). Para solucionar a impossibilidade de conduzir aulas presenciais, muitas instituições de ensino em todo o mundo aderiram à educação a distância.

Diante da mudança forçada no formato de educação, surge a dúvida sobre como será o aprendizado dessas crianças após a pandemia. A EAD continuará progredindo quando o isolamento social não for mais obrigatório? Como a tecnologia será incorporada ao mercado educacional?

Diante desse cenário de incertezas, um fato é que os investimentos em tecnologia educacional em todo mundo já vinham crescendo exponencialmente antes da Covid-19. Em 2019, foram investidos US$ 18,6 bilhões nesse mercado e havia a expectativa de essas cifras chegarem a US$ 350 bilhões em 2025.

Esses números são reflexo do processo de transformação digital que atinge toda a sociedade, muda a forma como trabalhamos e nos relacionamos, e está alterando a forma como estudamos e aprendemos.

Os impactos da transformação digital na educação

No Brasil, a adoção da tecnologia para a educação no mercado de trabalho despontou com a possibilidade de ofertas de treinamento online. Já no ensino, até a necessidade de ampliação de acesso a mais estudantes provocada pela pandemia de Covid-19, a educação a distância estava restrita às universidades.

No ensino superior, mais instituições vinham aderindo ao modelo de EAD. De acordo com último Censo da Educação Superior, feito pelo Inep (órgão do Ministério da Educação), em 2018, pela primeira vez na história, o número de vagas ofertadas em cursos universitários a distância (7,1 milhões) foi maior do que o número de vagas em cursos presenciais (6,3 milhões).

Uma das razões para o avanço da EAD no ensino superior brasileiro é a possibilidade de redução de custos. O barateamento dos cursos aumentaria sua acessibilidade às camadas mais pobres da população. 

No entanto, especialistas em educação indicam que à medida em que as aulas online permitem diminuir os custos com o corpo docente, algumas instituições optaram pelo desligamento de seus profissionais mais qualificados e, consequentemente, mais caros, o que prejudicaria a qualidade de ensino.

É importante ressaltar que o cenário acima não pode ser entendido como comum a todas as instituições que oferecem ensino a distância no Brasil. Muitas escolas ainda investem na contratação de professores mais qualificados, inclusive como um diferencial competitivo para a atração de mais alunos.

Soluções que já usam a tecnologia na educação

Com o apoio da tecnologia, diversas iniciativas têm sido desenvolvidas no mercado educacional. 

Abaixo, relacionamos algumas das soluções que utilizam a tecnologia na educação:

  • Plataformas de EAD: para oferecer educação a distância, as instituições de ensino recorrem a plataformas que permitem a professores e alunos gerirem conteúdos, assistirem a aulas, realizarem trabalhos e provas, assim como controlar notas.
  • Aplicativos para aprendizado de idiomas: com a propagação do uso de smartphones, cresceu também o volume de aplicativos que auxiliam no aprendizado. Alguns dos mais populares são os voltados para o desenvolvimento de idiomas, como o Duolingo, com mais de 100 milhões de downloads.
  • Cursos online: inúmeras instituições de ensino no Brasil e em todo o mundo disponibilizam cursos online gratuitos e pagos para o desenvolvimento de diferentes habilidades. Dois exemplos são a Udemy, com cerca de 100 mil cursos online, e a Coursera, que já oferece mais de 3.900 cursos e especializações. 
  • Aulas em videoconferências: as ferramentas de videoconferência serviram de suporte para instituições de ensino e professores particulares apresentarem suas aulas a distância. Esse fator foi um dos motivos que gerou o rápido crescimento do Zoom durante a pandemia do novo coronavírus.

Edtechs e startups com inovações em educação

Atualmente, algumas das principais inovações em educação têm sido promovidas pelas Edtechs, startups que usam a tecnologia da informação para apoiar os processos de ensino. Confira alguns dos exemplos dessas iniciativas.

Descomplica

Descomplica é uma startup que oferece uma plataforma de aprendizado online, focada nos estudos para o ENEM. Além de conteúdos para os estudantes, conta com monitoria online e correção de redações.

Stoodi

Outra opção para estudantes que querem se preparar para o Enem é o Stoodi. São mais de 5 mil videoaulas, banco de exercícios e correções de redações.

Udemy

Udemy oferece mais de 100 mil cursos online, distribuídos em 11 categorias. Além de estudos acadêmicos, há opções para desenvolvimento, TI, negócios, finanças, marketing, fotografia, saúde, música, design, entre outros temas.

Coursera

Coursera tem cursos, certificados e graduações online de grandes universidades, como Stanford e Imperial College London, e empresas de todo o mundo, como Google e IBM. 

Agenda Edu

Agenda Edu é uma solução de comunicação para melhorar a relação entre família e escola. Por meio do app, pais podem acompanhar a rotina dos filhos nas escolas, com uma série de notificações.

Niduu

Niduu é uma edtech voltada para a capacitação de funcionários. Entre as soluções oferecidas, estão treinamentos em liderança, vendas, atendimento, desenvolvimento pessoal e segurança do trabalho.

Brain Academy

Brain Academy é uma edtech voltada para inteligência socioemocional e de função executiva. Os cursos envolvem conhecimentos das áreas psicologia cognitiva, neuropsicologia, psicologia positiva e teoria da modificabilidade cognitiva para capacitar crianças, jovens e adultos.

Coorpacademy

A Coorpacademy é uma plataforma para treinamentos corporativos desenvolvida por ex-funcionários do Google. São mais de 800 mil opções de cursos em 19 línguas.

Ouça a participação de Guilherme Valgas no Digicast e saiba quais são os passos para a transformação digital:

Vantagens da educação a distância

A possibilidade de ampliar o acesso à educação é corriqueiramente citada como umas das grandes vantagens para o ensino a distância. Contudo, estudos sobre esse formato de aprendizado indicam que os benefícios vão além, superando as dúvidas sobre a eficiência da EAD.

Dois dados chamam a atenção:

Esses dados estão relacionados à possibilidade de os estudantes na educação a distância aprenderem no seu próprio ritmo, voltando e relendo, pulando ou acelerando os conceitos que escolherem.

Entretanto, a velocidade de aprendizado com conteúdos online varia de acordo com faixas etárias. Como crianças tendem a se distrair mais facilmente, pesquisadores e especialistas em educação alertam que o formato de conteúdo para esse público deve priorizar interações e recursos que tornem a aprendizagem mais divertida.

Tornar a EAD tão eficiente para as crianças quanto é para adolescentes e adultos é apenas um dos desafios para o uso da tecnologia na educação.

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Desafios da transformação digital na educação

Enquanto há a crença de que o uso da tecnologia na educação tende a aumentar a acessibilidade ao ensino, alguns obstáculos retardam a consolidação dessa tese. Especificamente no Brasil, os desafios envolvem questões de infraestrutura e maturidade digital.

Falta de infraestrutura

Um exemplo claro de como a EAD ainda não é acessível a todos aconteceu durante a pandemia de Covid-19. Sem o preparo adequado para a adoção da tecnologia no ensino, muitas instituições tiveram dificuldade em oferecer conteúdos a seus alunos, principalmente em escolas públicas.

Além disso, mesmo para aquelas que conseguiram oferecer aulas online, muitos estudantes não puderam acompanhá-las por não contar com os equipamentos necessários e, principalmente, por falta de acesso à banda larga.

A dificuldade para estudar gerou protestos sobre desequilíbrio na preparação dos estudantes para o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) e a pressão para que as provas fossem adiadas.

Alto índice de desistência

Antes da pandemia, outro fator já chamava a atenção sobre o quão eficiente poderia ser a educação a distância no Brasil: o número de estudantes que se formava em cursos de EAD não acompanhava o crescimento das matrículas nesse formato.

Segundo o Censo da Educação Superior, em 2018, no ensino presencial, o Brasil teve 990 mil formandos universitários, menos da metade da quantidade (2 milhões) de alunos que se matricularam em universidades presenciais naquele ano. Já no ensino a distância, essa taxa cai para um quinto: houve apenas 274 mil alunos formandos, em comparação com os 1,3 milhão que se matricularam no mesmo ano.

Uma justificativa para o baixo número de formaturas é a necessidade de comprometimento e maturidade para acompanhar as aulas online. Nesse formato, a motivação pessoal é ainda mais importante, o que evidencia também a necessidade de as instituições de ensino utilizarem os recursos tecnológicos para tornar seus conteúdos mais atraentes.

Falta de maturidade digital

Outro empecilho para o progresso da transformação digital na educação brasileira está relacionado à maturidade da população em relação ao uso da tecnologia para aprendizado. 

De acordo com a pesquisa Ibope Media/Target Group Index, que analisou os hábitos dos brasileiros na internet, apenas 7% dos 84 milhões de usuários da internet no Brasil  disseram fazer ou já terem feito algum curso online. Em contrapartida, o mesmo estudo indica que 81% dos brasileiros são usuários de redes sociais. 

Portanto, além do desafio da adoção da tecnologia pelas instituições de ensino, a educação brasileira encara a falta de interesse pelos conteúdos já disponíveis.

A necessidade de não oferecer um formato de aprendizado enfadonho é um desafio que acompanhará o obstáculo dos poucos recursos disponíveis para o investimento em equipamentos e tecnologia.

Como será o futuro da educação com o apoio da tecnologia

A obrigatoriedade de isolamento social provocada pela pandemia de coronavírus fez com que muitas instituições de ensino e estudantes tivessem de se adaptar a um novo formato de educação mesmo sem o devido preparo. 

Esse cenário reflete em experiências negativas e possíveis restrições ao uso de EAD. Contudo, abre as portas também para que a transformação digital na educação se consolide de forma mais significativa.

Em meio à pandemia, plataformas de educação a distância passaram a ofertar seus serviços gratuitamente. Isso  gerou um rápido crescimento dessas aplicações. A indiana BYJU’S, empresa de edtech mais valorizada do mundo, anunciou um aumento de 200% no número de novos alunos usando seu produto.

Na China, onde surgiu o novo coronavírus, o governo recomendou que estudantes em tempo integral retomassem seus estudos por meio de plataformas online. Nesse movimento, a plataforma Tecent recebeu mais 730 mil novos estudantes.

Com mais adeptos ao formato EAD, enquanto algumas iniciativas podem adotar integralmente o modelo de ensino online, outras podem caminhar para modelos híbridos.

O uso da tecnologia na educação não quer dizer apenas que o formato de aula presencial será transferido para o meio virtual. Nesse processo, novos recursos são explorados para transformar a experiência de aprendizado. 

A gravações automáticas de aulas a palestras, que poderão ser acessadas posteriormente,  e os centros digitais para colaboração em estudos e pesquisas já são comuns e tendem a ganhar ainda mais espaço.

A pandemia obrigou a uma mudança radical e pode ter sido a ruptura definitiva de um modelo de educação que ainda se concentrava em habilidade acadêmicas e deixava em segundo plano o desenvolvimento do pensamento crítico e da adaptabilidade.

Com os necessários investimentos em infraestrutura, a transformação digital pode proporcionar maior acessibilidade à educação e romper barreiras geográficas.

Aproveite para saber como a transformação digital tem impactado a saúde com o avanço da telemedicina e ainda como a digitalização proporcionou o surgimento da advocacia 4.0.