A pandemia de Covid-19 obrigou que muitas empresas passassem a operar remotamente. Mesmo os profissionais que não estavam acostumados a trabalhar em home office foram obrigados a realizar suas atividades em casa. Diante desse cenário, como fica a rotina das equipes de vendas?

Para entender melhor sobre como gerir vendas online em tempos de pandemia, conversamos com Renato Ferreira, da Insight Sales.

 

Para ouvir a 30ª edição do Digicast, basta usar o player acima. Se preferir, você pode ler a transcrição da entrevista feita por Pedro Renan, CEO da Digilandia, logo abaixo.

Olá! Bem-vindos ao 30º episódio do Digicast. Sou Pedro Renan, CEO da Digilandia e da Agência Papoca e seu host. 

Hoje, recebo meu amigo, coach e consultor Renato Ferreira, da Insight Sales, para falar sobre venda online em tempos de pandemia.

Bem-vindo, Renato!

Obrigado pelo espaço, Pedro. Estou à disposição para podermos falar um pouco sobre o tema, trazer um pouco de como é possível vender de forma remota e escalar operações comerciais. Meu sonho é ser 10% disso que você falou. Estou na luta para cumprir suas expectativas.

Meu compromisso é com a verdade. É tudo baseado em fatos reais. 

Você é um especialista e vendas e trabalha há bastante tempo com isso. Gostaria de começar perguntando como você vê a adaptação das empresas ao modelo de vendas online. Como você viu desde o começo até agora?

É uma mudança muito traumática, porque grande parte das operações comerciais se baseavam muito na relação presencial dos gestores com os vendedores, aquele coaching, one-on-one, tudo muito olho no olho. Até as métricas de acompanhamento sempre foram mais focadas em esforço do que produtividade. É um acompanhamento muito robusto em volume de ligações, de e-mails enviados, contatos em redes sociais, como LinkedIn.

Quando você parte para o trabalho remoto, esse acompanhamento se torna mais complexo, porque você perde o acesso no olho no olho. Então fica um pouco mais complicado de microgerenciar a equipe. Só para deixar bem claro, microgerenciar tende a não ser uma coisa boa no comercial. Costuma gerar mais burnout no vendedor do que resultados para a empresa. Então, vejo a adaptação como algo traumático, mas como um caminho sem volta.

As operações comerciais têm focado primeiro em automatizar tudo o que é possível, para aumentar a produtividade do vendedor. Agora é reunião o dia inteiro. Antigamente, eram mais reuniões com os leads e clientes. Hoje, há reuniões entre equipes, reuniões de alinhamento. Tem esse ponto da automação, para liberar agenda. E há a informatização do processo. Cada vez mais, as empresas têm adotado soluções de CRM, de sales engagement, VoIP e etc.

O futuro é uma informatização de fato e adaptação das operações comerciais a um modelo a distância. Os gestores vão aprender a priorizar o que vale a pena ser alinhado, para evitar turnover, evitar insatisfação da equipe e manter o resultado em alta.

Uma coisa que tenho visto bastante é que, tanto para vendas quanto para marketing, seja em empresas privadas ou no setor público, as pessoas entenderam que nem sempre precisam fazer uma reunião presencial. Você, realmente, não precisa se deslocar em algumas ocasiões. Agora parece ser um caminho sem volta e que, ao menos para uma parte disso, as pessoas entenderam que é possível, que existem ferramentas e agora é apenas uma questão de adaptação. Você concorda?

Concordo e acho que é um caminho sem volta. Só trazendo algumas situações e exemplos de como as pessoas estão precisando priorizar melhor as agendas delas e isso tem gerado a uma maior objetividade das reuniões é que se um vendedor tinha algum problema numa cold call, você, como gestor, ao passar ali do lado, via e conseguia dar um feedback em pouco minutos e resolvia. 

Você tinha mais agenda para gerenciar outras demandas e a objetividade não operava, até porque o nosso mercado de tecnologia é relativamente novo. Estamos aprendendo muita coisa. E sempre houve um foco muito relacional na forma de fazer negócio aqui no Brasil. Eram muitas reuniões não tão objetivas, mas, para quem tinha agenda, acabava casando bem.

Com essa mudança agora, para dar um feedback para um vendedor, você tem de ter uma ferramenta que gravará essa ligação. Você tem de ouvir a gravação completa, para ver quais foram os gargalos e as dificuldades, para depois passar um feedback para ele. Mas, se você for fazer várias reuniões pequenas com sua equipe, para passar todos os feedbacks, não vai trabalhar. Você ficará por conta de fazer pequenos alinhamentos.

Esse movimento do trabalho remoto tem levado as pessoas a priorizar melhor o que precisa de uma reunião, até para ninguém ficar 100% no trabalho.

Uma outra discussão interessante é que trabalho remoto pode levar a uma confusão entre vida pessoal e vida profissional. Tenho percebido esse movimento.   

Concordo 100%. No episódio 3, falamos com a Amanda, do Trello, sobre dicas de trabalho remoto. E um livro que muita gente indicou aqui, que é o Remote, do pessoal do Basecamp, fala apenas sobre trabalho remoto. Há uma lenda que ao trabalhar remotamente você será menos produtivo, mas, normalmente, você acaba trabalhando muito mais por confundir o período de trabalho em casa.

E outra coisa que vejo muita gente fazendo é criticando esse modelo de trabalho remoto, mas temos de separar as coisas. Muitos foram obrigados a ir para casa, sem nenhuma estrutura, por conta de uma pandemia. Para quem tem filhos, isso é muito complexo, porque eles não estão na escola. Então é um ambiente que não é o natural. 

Pegando essa questão de desafio, quais são os principais gargalos que qualquer empresa encontra ao montar um time de vendas ou esse processo de vendas online?

Vou começar pela parte de contratação, porque, na pandemia, você perde a possibilidade de realizar uma entrevista presencial, de sentir mais um olho no olho. Você fazer um filtro remoto de talentos é um pouco mais complexo, requer um pouco mais de atenção, tanto na hora de selecionar quanto em verificar se aquela pessoa terá aderência na forma como seu negócio trabalha. 

Ter uma validação cultural de uma pessoa que trabalha fora do seu ambiente físico é difícil. A chance de erro aumenta um pouco, mas esse desafio leva os recrutadores a colocarem uma régua um pouco mais alta, para ter certeza de que a pessoa que vai entrar permanecerá ali por muito tempo.

Além da contratação, os desafios vão muito na gestão das atividades do dia a dia, porque é muito complicado fazer microgestão de atividades de forma remota. Tem de existir uma relação de confiança muito forte e entre gestor e equipe, ao mesmo tempo que precisam ser priorizados os indicadores chaves dentro do processo, porque eles dirão se a equipe está ou não produzindo.

O grande desafio inicial é contratação, porque você pode ter o melhor processo do mundo, mas precisará de pessoas para fazer ele acontecer e gerar resultado de forma consistente. Ao mesmo, há a priorização do que você vai acompanhar, para garantir que a equipe está performando e, caso alguém não esteja performando, entender o por quê.

Esses são os maiores gargalos hoje. O restante vejo como problemas acessórios. Por exemplo, a implantação de um CRM ou de uma ferramenta de VoIP, para fazer uma gravação. Isso depende muito mais do orçamento da empresa do que necessariamente de vontade para fazer acontecer. Contratação e indicador são problemas mais universais.

Inclusive, no episódio 4, falamos com o Rafael, da Supersonic, e ele falou só sobre como criar uma cultura organizacional para uma empresa remota. Ele deu várias dicas bem legais, que acabam impactando na questão da contratação e do acompanhamento.

Aqui, na Agência Papoca, somos remotos desde o dia um. Nunca tivemos um escritório. Então, essa questão do trabalho remoto já é uma realidade há mais de quatro anos, mas, com a pandemia, se tornou mais complexa a contratação e o engajamento das pessoas no dia a dia. Antes, quando a galera entrava, havia uma vida mais ativa fora do trabalho. Agora, o trabalho remoto passou a ser a vida das pessoas, porque não há como sair de casa.

Portanto, criamos uma série de mecanismos para poder engajar, acompanhar o pessoal e fazer com que todos ficassem bem psicologicamente. 

Não precisa ser algo complexo, mas precisa haver uma rotina. Nós temos apenas uma reunião semanal e acompanhamos o resto por Trello, por Slack e funciona. Trabalhamos com marketing, suponho que para vendas seja outro fluxo. Mas, o importante é ter uma rotina.

Sem dúvida. Você tem de ter uma divisão para haver uma separação do pessoal e do profissional. E como a agenda do vendedor depende muito da agenda dos leads, você fica um pouco preso ao horário comercial. Então, você tem de ter bastante parcimônia para segmentar suas atividades dentro da rotina, para garantir que executará de uma forma que não seja tão estressante.

Vendas, em si, já é naturalmente estressante tomar não o tempo todo. Você bate em muita porta e o pessoal não abre. Acontece bastante, então é preciso ter muita atenção.

A respeito de rotinas, trabalhava com gestão comercial remota mesmo antes da pandemia. Acho que fui um dos poucos gestores comerciais que escolheu trabalhar remotamente quando podíamos ainda trabalhar presencialmente. É bom ter uma daily assíncrona, por Slack, Microsoft Teams ou a ferramenta que for, para, no final do dia, todo mundo falar qual foi o melhor case, qual foi o pior e quais os gargalos do processo.

Quando falo assíncrona, é uma daily por mensagem, para evitar reuniões desnecessárias. Dependendo do tamanho da equipe, para empresas que tenham fluxos mais complexos, é bom ter uma reunião no começo da semana, no primeiro horário, para alinhar quais negócios estão mais quentes e precisam de mais atenção e o vendedor precisa de um suporte do gestor. E uma reunião no final da semana, para saber como esses forecasts andaram, se houve algum movimento inesperado dentro do funil.

Essas duas reuniões são mandatórias e precisam acontecer para o processo ser saudável. A daily assíncrona para manter o alinhamento constante de como o processo tem evoluído. E acho que é sempre bom ter um alinhamento mensal, para poder ter um panorama geral do processo, o que funcionou ou não.

E, ao mesmo tempo, o gestor tem sempre de ter um tempo livre para imprevistos que, naturalmente, vão acontecer ao longo do dia com a equipe. E também para realizar alinhamentos não planejados caso haja necessidade.

Avançando um pouco, costumamos fazer as perguntas difíceis, para mostrar o lado que ninguém mostra e é aquele onde temos mais aprendizado. Dentro dessa parte de gestão comercial, qual foi seu maior erro na carreira, mas que gerou um aprendizado?

São tantas coisas, que não é fácil escolher só uma. O meu maior erro foi um conjunto de decisões que tomei mais no início da minha carreira de focar muito em indicador de esforço. Era muito focado em volume de ligação ou de atividades. Colocava uma pressão muito forte na equipe, para poder realizar aquele volume certinho por dia. 

Todo mundo que começou a mexer com vendas no Brasil depois de 2014 ou 2015, teve algum contato com o Predictable Revenue. E o livro prega muito a questão de volume, ter a cadência, mas são mercados muito diferentes, o brasileiro e o americano. São vendas muito distintas. Elas não se parecem nem um pouco.

Aqui, por ser mercado com foco muito relacional, focar mais na qualidade da prospecção acaba valendo mais a pena do que ter um alto volume de atividades. A não ser que você tenha um ticket médio muito baixo, em que você precisa trabalhar na base do volume, senão você não fecha nada.

Fazia muita pressão em cima disso. Gerava muito burnout na equipe. Tinha bastante turnover. E demorei a tomar a decisão de priorizar o que iria acompanhar e também de fazer uma análise mais robusta do que era mais relevante, que era basicamente colocar minha assinatura no processo, em vez de seguir aquele manualzinho que tinha lido. É ótimo livro, muito legal, mas você tem de ter muito senso crítico para saber o que é pertinente ou não. 

Se fosse colocar numa frase o meu erro seria: apliquei sem contexto algo que li num livro e me dei muito mal.

Sensacional. Acho que cometi a mesma coisa, mas com marketing. Quando houve o boom de inbound marketing aqui, com todos os eventos, certificações, cursos online e blogs falando disso, lembro que lia, aplicava e não dava certo. Eu ia numa tentativa e erro absurda, até montar minha assinatura.

Queria te perguntar, até porque aconteceu comigo, contigo e, certamente, com milhares de outras pessoas que trabalham com vendas e marketing. Todo mundo lia os mesmos livros, os mesmos blogs e, no final do dia, está todo mundo fazendo a mesma coisa.

Você acha que há um problema em que passa a metodologia em deixar claro que ela precisa ser adaptada e não é só copiar e colar ou está no lado de quem absorve esse conteúdo? E qual é a linha tênue entre absorver e adaptar? É um skill ou uma questão de criatividade?

Acho que é uma ótima pergunta. Colocarei algumas hipóteses que tenho na minha mente. A primeira é que toda metodologia é uma forma de vender algum produto ou algum serviço.

Aquela pessoa que estruturou, de alguma forma, busca uma autopromoção, o que não é um problema. E, naturalmente, ela tentará vender como se fosse o one size fits all, uma coisa que vai atender a todas as demandas, a todos os mercados, de todos os jeitos. Há esse aspecto.

Acho que quando falamos de metodologias estrangeiras no Brasil, existe um complexo de vira-lata nosso, de considerar que tudo que vem de fora é melhor. Mas, tive experiências vendendo para fora do Brasil e posso falar com conhecimento de causa que não é nada parecido.

O perfil do comprador é muito diferente, o tipo de perguntas é muito diferente do que acontece aqui. Os ciclos mudam. É muito complicado uma empresa estrangeira entrar no Brasil e existe um motivo: o perfil do comprador e o aspecto cultural é muito forte.

Existe também uma ingenuidade pelo lado de quem lê, principalmente quem está começando. Isso se encaixa perfeitamente no meu cenário e no seu no início. Você lê aquilo e as palavras parecem muito belas. Você vê a fórmula e acha que ficará milionário em seis meses, vai se aposentar e não pegará num telefone nunca mais.

Mas, depois de um tempo, você pega maturidade para entender que as coisas não são bem assim. Voltamos no ponto um de entender que a metodologia é um produto num primeiro lugar e, ao mesmo tempo que todo método precisa ser adaptado a uma realidade em que será inserido, você não adapta a realidade ao método. Você tem sempre de fazer o contrário.

E outro problema que vejo muito é os gestores querer adaptar a realidade deles ao método que alguém inventou. A realidade não se adapta dessa forma, é muito mais lenta. São muito mais baby steps, para fazer acontecer, e você tem sempre de respeitar o ambiente em que está inserido, senão você quebrará a cara eternamente e não vai entender o por quê. É preciso ter bom senso para fazer a adaptação.

E, por último, no meio corporativo em geral, existe uma cultura de vender sucesso. Obviamente, ninguém vai falar das coisas que estão dando errado, o que não funcionou e não fluiu tão bem. Existe uma venda excessiva de metodologias e processos, que todo mundo tenta aplicar no dia a dia e, no final, não consegue. 

E é muito fácil justificar o fracasso e o erro baseado em algo que outra pessoa fez que não você. O aspecto da insegurança pesa bastante isso.

Acho que já fiz bastante isso e vejo muita gente fazer. Realmente, isso é muito ruim, para você, para a empresa, para o time. Você vê toda hora metodologia nova, cases de sucesso e muda seu plano a cada 15 dias. Daqui a pouco, você não tem nada. Não tem o seu plano, não tema inovação nem um caminho claro.

Às vezes, nos inspiramos em concorrentes ou pessoas que admiramos, mas eles estão apenas contando o sucesso e não temos o por trás. Foram os pequenos ajustes que fizeram eles terem resultados tão bons, mas eles não revelam.

É óbvio que é preciso estudar, mas é mais importante olhar para dentro do que para fora. Assim, as coisas acabam evoluindo melhor.

Seguindo na linha de por trás das cortinas, qual foi seu dia mais difícil como empreendedor?

Um foi bem emblemático. Foi um momento de amadurecimento em que tive de aprender que tocar uma empresa não é brincadeira.

No meu primeiro negócio, houve uma época em que por falta de planejamento e por uma série de erros, deixamos passar o pagamento de um tributo. E o governo é um sócio que vai te cobrar. 

Quando deixamos de pagar esse imposto, por falha 100% nossa, meio que deu sensação de um lucro muito alto. E se você é startup, você quer reinvestir aquele dinheiro para poder potencializar sua operação e crescer mais.

Quando chegou a bela notícia de que precisávamos pagar aquele boleto o quanto antes para os juros não se acumularem, foi um choque. Foi como se eu tivesse vivido uma mentira durante três meses em relação aos nossos resultados financeiros.

Tomamos uma série de decisões em relação a contratações e a escalar a equipe por conta desses números. Foi um momento em que tivemos de sentar, reunir a equipe e sermos transparentes em relação ao que aconteceu, em relação ao resultados que precisávamos atingir para poder cobrir aquele gargalo.

As coisas correram muito bem, conseguimos sanar tudo rapidamente, mas foi a troco de muito cabelo. Minha calvície foi potencializada nessa época e o estresse foi muito alto. O trabalho foi zero saudável, aquele que vai de 7h até 22h. Mas foi um puta aprendizado. 

Você pode vender sucesso, mas se não colocar aquilo no cotidiano do seu negócio, uma hora o preço chega e a conta costuma ser bem cara. Do nosso lado, não escalou, mas era uma coisa que se mantivéssemos como estava, hoje em dia, eu nem teria outra empresa. Com certeza, estaria pagando dívidas intermináveis. Ainda bem que deu tudo certo no final.

Indo para a parte mais legal, qual foi o seu maior acerto como empreendedor?

O meu maior acerto vou colocar uma característica. Foi paciência. 

Vivemos de pequenas vitórias todos os dias e grandes derrotas pontuais. Mas ter paciência para esperar coisas acontecerem, correr atrás, acaba se pagando.

No meu primeiro negócio, tive muita paciência. Também tiveram muita paciência comigo, para poder aprender, evoluir, conseguir aprimorar algumas habilidades.

Não era tão paciente com minhas equipes. Tenho isso hoje muito claro. Acho, inclusive, que atrapalhou muito o crescimento do negócio. Depois, peguei como mantra de carreira que tenho de ter paciência, respirar fundo para poder dar o espaço para os outros evoluírem e dar tempo ao tempo. 

Desde então, as coisas têm fluído realmente tranquilas do meu lado, e pretendo manter assim o máximo de tempo possível.

Isso é vital, principalmente no ambiente de startup em que a gente vive. Como você falou, são micro vitórias, grandes derrotas e uma montanha russa gigante. Isso é uma rotina muita cansativa e exaustiva, mentalmente falando. Você, realmente, tem de ter paciência porque as coisas não acontecem no tempo que a gente deseja. Elas são bem mais lentas.

Para liderança e quando você trabalha com outras pessoas, essa paciência é importante para entender que cada um tem seu tempo. Já errei muito de cobrar que as pessoas fizessem as coisas no meu tempo. E, não necessariamente, quer dizer que eu seja melhor ou pior que a outra pessoa. Mas, às vezes, fazia quatro atividades, contratava a pessoa para fazer uma e ela não conseguia fazer. Eu chegava de forma agressiva. Não me orgulho disso e fui entendendo que é tudo uma questão de característica e gestão de expectativa.

Há uma analogia que costumo fazer em relação ao casamento. São pouco mais de dois anos. E uma coisa que você vive muito é o momento de respirar fundo. Você respira fundo o tempo todo, mas a pessoa que está com você também respira fundo o tempo todo para viver bem com você. 

Você passa a entender que se reclamar se está fazendo isso focando na melhoria ou para desabafar. 

O desabafo também é válido. A beleza do ser humano é o fato de ele ser falho. Mas, quando pensamos no meio empresarial e na área de negócios, a sua equipe vive também vários pequenos infernos na vida dela, na vida pessoal e no trabalho. E, às vezes, você mesmo como gestor, pode ser inconveniente, colocar uma informação de forma incorreta. E sua equipe também respira fundo e deixa passar.

Você coloca como uma troca. Não gostaria também de ouvir desabafos, críticas pessoais e não técnicas. Você passa a levar isso como um mantra, e o clima fica muito melhor, porque se deu certo, show. E se não deu certo, vida que segue. Às vezes, aquela pessoa não era a melhor para aquela função, mas pode ser genial em outras.

Você não pode ter como trabalho minar a autoestima dos outros, porque não conseguiram desempenhar uma tarefa para você. Todo mundo vive seus infernos diários e temos de respeitar.  

E como empreendedor, uma coisa que todos têm de ter em mente que é, se o negócio der errado, ele tem muito a perder. Se der certo, ele é a pessoa que mais tem a ganhar. E isso não vale para a equipe da mesma forma.

Vou dar um exemplo: a Papoca está bombando, com vários clientes. Se, por um acaso, você faz um exit da Papoca, você, provavelmente, é uma das pessoas que mais vai ganhar, junto com seus sócios. Mas, em compensação, não é que sua equipe vá ganhar também. Estamos falando de escalas completamente diferentes.

O empreendedor acumular funções é quase um job description. Em compensação, a equipe não. Se der certo, ela vai evoluindo, mas nunca será a maior ganhadora. Então, naturalmente, não se sentirá motivada a trabalhar de forma insana, como um diretor ou dono da empresa, mais por necessidade do que por querer.

Voltando para a parte de vendas, se pudesse dar dicas práticas para quem quer estruturar uma área de vendas online, quais seriam?

O primeiro ponto é definir o que espera do vendedor em relação a perfil. Esse é o ponto inicial.

O segundo ponto é definição das ferramentas que serão utilizadas no processo. O ideal é começar, pelo menos, com CRM ou uma ferramenta como o Trello, que também pode ser usada como CRM.

A terceira dica é estruturar um treinamento. Não estamos falando de um playbook ou algo complexo, mas, pelo menos, um passo a passo, de quais são acessos às ferramentas que a pessoa precisa ter, o que é esperado em relação ao discurso, sugestões de pitch para prospecção, sugestões de templates de e-mail, documentação explicando como produto ou serviço funcionam. É essencial ter esse onboarding bem desenhado.

O quarto ponto é definir uma estrutura de acompanhamento, como uma reunião no começo da semana de alinhamento e outra no final para ver como as coisas andaram, para que o processo tenha uma rotina de melhoria constante com feedbacks.

E, por último, definir quais funções vão existir dentro do processo. A minha recomendação é sempre que o bolso permite que segmente o processo, caso seja uma venda mais complexa ou que tenha um ticket médio maior, com algo acima de R$ 500. 

Normalmente, isso costuma gerar melhoria dos indicadores, porque serão pessoas especializadas em cada uma das etapas. Ter um especialista em prospecção, alimentando o funil de forma contínua, e um especialista em fechamento, dando vazão para o final do funil, sempre tende a maximizar o resultado e diminuir o tempo de ROI (retorno sobre investimento).

Excelentes dicas. E se pudesse dar uma dica de livros, qual você recomendaria?

Acho o Sapiens bem legal. Li tem alguns meses. Acho interessante a forma cronológica como conta a evolução da espécie humana. É muito legal ver o ser humano num aspecto mais científico, nos ver como objetos de estudo. 

Mostra como foi a evolução do humano no começo, deixando de ser nômade e se fixando em alguns lugares. Há a questão da melhoria da qualidade de vida ao longo dos séculos. Há a questão até da religião como mecanismo da expansão de culturas, de agregar pessoas. É bem legal. 

E algo que acho bem interessante é pontuar, deixar bem claro do CNPJ como ficção jurídica, porque muita gente tende a considerar as empresas quase como pessoas. Acho muito engraçado, porque a empresa, na prática, no mundo real, como entidade, só existe no papel. Hoje, se você queimar seu contrato social, é como se seu negócio não existisse.

O fato de o ser humano ser o único animal que consegue criar ficções que se tornam realidade na nossa imaginação, acho algo fantástico.

Livro Sapiens

Acho fenomenal esse livro. E o que acho mais legal é toda essa parte de evolução, de trazer dados, coisas científicas e a questão da fé, porque quando falaamos de fé, é tudo aquilo que moveu todas as outras sociedades. É aquilo que você acredita. Não necessariamente preisa ser Deus ou a religião. Mas se você tem fé na sociedade, é o que te faz acordar todos os dias para viver. Essa fé pode ser ampla.

Ele mostra com dados e fatos reais, como todas as conquistas foram através disso. Foi determinante para que a sociedade evoluísse. E é um tapa na cara atrás de tapa na cara como as sociedades evoluíram. Mostra que independente de regimes, já passamos por todos eles e somos fruto de tudo isso.

A esperança é o motor do ser humano. 

E alguma dica de série ou filme?

Por conta da pandemia, série tenho visto cada vez mais. Estou vendo uma que chama The Morning Show, que é com Jennifer Aniston e Reese Whiteerspoon, que conta o cotidiano de um programa matinal nos Estados Unidos. 

É bem legal como fala sobre o funcionamento da parte política do backstage, como ocorrem as decisões lá dentro. É muito focado também em escândalosque aconteceram nos Estados Unidos nos últimos anos.

Dá uma visão bem interessante e crua sobre o meio corporativo e como funcionam as dinâmicas.

 

E tem algum meio de conteúdo que você consome e recomenda?

Gosto muito de conteúdos em relação a dados e indicadores. Acompanho bastante o blog do Tomasz Tunguz. Ele é investidor da Redpoint e traz bastante conteúdos sobre métricas Saas, o que acho bem legal.

Fora o blog dele, não acompanho nenhum canal específico. Você, que trabalha mais com conteúdo, sabe que tudo no final é meio que uma propaganda, o que não é nenhum problema. Mas, você acaba vendo a mesma coisa de formas diferentes. O SEO deu visibilidade para as empresas, universalizou ofertas, mas, ao mesmo tempo, em termos de conteúdo, é complicado achar alguma coisa com muita qualidade.

Tenho focado muito em cursos, como a Udemy, para parte mais de desenvolvimento. Na Codecademy, vejo coisas com relação a dados. Tenho ficado mais nessa pegada de conhecimento prático. Não tenho lido tantos blogs corporativos.

Para finalizar, um momento jabá. O espaço é todo seu!

A Insight Sales é a única ferramenta hoje no Brasil de dashboard comercial que você integrar com seu CRM em menos de um minuto.

Nós desenvolvemos uma série de regras de negócios que impedem erros de preenchimento do vendedor impactem na qualidade dos dados, o que é um grande problema no mercado. 

Pode dizer que é a única ferramenta que foi feita de vendedores para vendedores, com foco em fazê-los vender mais e não apenas gerar mais um ambiente que ele vai ter de ficar nutrindo.

Estamos no LinkedIn e no Instagram também. No Facebook, ficamos ali, mas não é uma rede tão ativa. Recomendo mais os canais do Instagram e do LinkedIn.

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