Como será o futuro do trabalho pós-pandemia? Diversos especialistas têm elaborado respostas para essa pergunta, buscando estabelecer um prognóstico que considere os impactos econômicos provocados pela Covid-19 e as novas recomendações em relação à saúde.
Já sabemos que o PIB sofrerá grande retração, muitas pessoas terão perdido seu lugar no mercado de trabalho e as companhias não poderão operar nos escritórios como antigamente.
Ainda que o isolamento social não seja mais a regra, os espaços de trabalho deverão manter distanciamento, para que os riscos de contágio não retornem como no pico da pandemia. No entanto, o panorama atual mostra que muitas empresas nem sequer retornarão aos antigos escritórios.
Depois de terem sido forçadas a adotar o home office como modelo de trabalho, diversas companhias de diferentes portes já manifestaram que planejam manter seus colaboradores no teletrabalho.
Entre os motivos, dois aparecem como principais: as dúvidas sobre queda de produtividade foram derrubadas e os custos operacionais diminuíram com os funcionários realizando suas atividades em casa.
Ao que tudo indica, o futuro do trabalho é remoto. Mas será mesmo?
O futuro será mesmo remoto?
Embora as empresas não estivessem preparadas, a obrigatoriedade do isolamento social promoveu uma avalanche de companhias e funcionários sendo forçados a se adaptar ao trabalho remoto.
Em meio a essa transição compulsória, muitas pessoas tiveram de dividir o “seu novo espaço de trabalho” com crianças e familiares. Outras várias se viram obrigadas a trabalhar em ambientes que não estavam preparados para as atividades profissionais. Assim, há quem avalie que a experiência com o home office possa ter provocado muitas visões negativas.
“É muito provável e tem acontecido bastante que as empresas tenham até uma sensação de trauma dessa transição, porque ninguém estava preparado para isso necessariamente”, analisa Lucas Morello, sócio-fundador da Scalout e da remotebox.
O empreendedor, que se define como um nômade digital, adota o regime de trabalho remoto em suas duas empresas. Ele pondera que o home office exige o uso de ferramentas e processos que nem sempre estão claros quando trabalhamos mais próximos de nossos colegas e ressalta que a adaptação ao novo modelo exige tempo.
“Todas as rotinas que acontecem de maneira pessoal, quando vão para o ambiente remoto, devem acontecer de forma intencional. Você não encontrará alguém no elevador, na mesa da frente… As coisas mudam de lugar, e as pessoas têm hábitos antigos. E hábitos antigos são difíceis de matar. Temos toda uma adaptação humana ao trabalho remoto que demora por si só”, acrescenta.
Entre experiências negativas e positivas, nunca tantas pessoas trabalharam remotamente como durante a pandemia. O home office foi a solução para o momento de crise. E quando esse período acabar, como empresas e funcionários se comportarão em relação ao teletrabalho?
Para Lucas Morello, a pandemia abriu espaço para uma nova discussão. “Para quem teve o privilégio de trabalhar remotamente nesse período, será inevitável falar sobre isso. O maior desafio será o diálogo dentro da empresa de como viabilizar isso e o que será possível”, observa.
“Pode não ter acontecido da melhor forma, mas as pessoas terão de conversar sobre o assunto. O maior desafio será as pessoas se educarem para ter uma boa conversa sobre e não simplesmente se basearem por achismos ou experiências que aconteceram num momento de crise”, complementa.
Migração permanente para o trabalho remoto
Apesar de a migração forçada ter impedido a preparação adequada para o trabalho remoto, muitas empresas já manifestaram a intenção de manter o home office como padrão nos próximos anos.
Segundo um estudo realizado pela consultoria Cushman & Wakefield, divulgado pela Exame, 73,8% das empresas pretendem instituir o home office como prática definitiva no Brasil após a pandemia do novo coronavírus.
A pesquisa indica que antes do isolamento social 42,6% das empresas nunca tinham adotado a prática e, em 23,8% das companhias, o home office não passava de uma possibilidade em análise.
Embora a migração para o home office tenha sido forçada por causa da pandemia, impedindo uma preparação prévia, os resultados da adoção do trabalho remoto foram aprovados. Para 25,4% dos entrevistados, a experiência do trabalho remoto é totalmente positiva, enquanto para 59% há mais pontos positivos do que negativos.
Somente 2,5% dos executivos ouvidos disseram que a experiência é totalmente negativa e outros 13,1% afirmaram que há mais pontos negativos do que positivos.
Ouça toda a participação de Lucas Morello no Digicast em que discutimos qual será o futuro do trabalho:
Por que as empresas planejam manter o trabalho remoto
Uma das principais preocupações em relação ao home office sempre envolveu a produtividade. Muitos gestores temiam que o distanciamento dos membros de suas equipes impedisse o controle do que deveria ser executado e, consequentemente, haveria perda de eficiência.
Essa desconfiança já havia sido combatida por diversos estudos e pesquisas que mostravam que uma das principais vantagens do home office é justamente o aumento de produtividade. Durante a pandemia, foi definitivamente derrubada a crença de que, uma vez que trabalham em casa, os colaboradores podem ser menos disciplinados em suas atividades.
“Na verdade, vejo a gente trabalhando mais do que antes. Nosso trabalho ficou mais focado”, destacou o presidente do Google no Brasil, Fábio Coelho, depois de ter conduzido a migração dos mil funcionários da companhia no país para o home office.
Paralelamente à percepção do aumento de produtividade, as empresas passaram a conviver com diminuição de despesas. Há companhias que estimam economizar milhões de reais ao ano, ao eliminar custos fixos com aluguel, condomínio, estacionamento, manutenção e outros desembolsos recorrentes.
Sem a necessidade de manter tantos postos de trabalho disponíveis aos seus colaboradores, as companhias se preparam para adaptar os escritórios a novas rotinas. A XP, por exemplo, estuda utilizar esses locais de trabalho para demandas pontuais, como treinamentos de equipes, dinâmicas presenciais, atendimentos a clientes e parceiros.
Embora o home office possa trazer diminuição de custos operacionais para as empresas, a XP alega que a adoção permanente do trabalho remoto está relacionada à avaliação da vontade dos funcionários, que, por meio de pesquisas, demonstraram ter maior qualidade de vida e efetivamente preferir uma rotina com maior possibilidade de trabalhar de casa.
A pesquisa interna indicou que 95% dos colaboradores gostariam de manter, pelo menos, um dia por semana de home office e quase 60%, entre três e quatro dias.
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Exemplos de empresas que manterão o home office depois da pandemia
Em todo o mundo, grandes empresas manifestaram a intenção de manter seus colaboradores no trabalho remoto mesmo depois de o surto do novo coronavírus ser superado.
Esse é o caso, por exemplo, do Facebook. CEO da rede social com mais usuários em todo o mundo, Mark Zuckerberg estima que quase 50% de seus funcionários trabalharão remotamente dentro de 10 anos.
Já o Twitter divulgou que seus colaboradores poderão permanecer em home office para sempre, se assim desejarem. “A abertura dos escritórios será uma decisão nossa. Quando e se nossos funcionários voltarão a trabalhar de lá, será uma decisão deles”, informou o comunicado divulgado pela direção da rede social.
Outras gigantes de tecnologia, como o Google, também caminham para a expansão do home office em suas rotinas. No início de maio, a companhia anunciou que todos os seus trabalhadores que quiserem manter o regime home office até o fim de 2020 estão autorizados a permanecer em casa mesmo quando os escritórios forem reabertos.
Uma pesquisa inédita feita pela redação da IT Mídia mostrou mais de 130 empresas de tecnologia que adotaram o trabalho remoto. Porém, iniciativas de adoção de home office não se restringiram apenas a esse setor. Coca-Cola e CVC são mais dois exemplos de grandes companhias que seguiram por esse caminho.
E engana-se quem pensa que o home office será comum somente a empresas de grande porte. Um estudo global realizado pelo software Capterra e pelo instituto de estudos Gartner indicou que 77% das pequenas e médias empresas brasileiras adotaram o teletrabalho na pandemia e 55% consideram trabalhar de forma remota no futuro.
Para a adoção definitiva do trabalho remoto, as PMEs já se adaptam às exigências das transformação digital. A pesquisa mostrou ainda que 60% das empresas compraram ou planejam comprar novos softwares para o home office.
A digitalização é um dos passos a serem seguidos para a implantação do home office em uma empresa. Nessa trajetória, os gestores devem ficar atentos também à formalização de uma política para o trabalho remoto, à adoção de ferramentas que permitam que todos desempenhem suas atividades da melhor forma e à adequação à legislação trabalhista.
Aproveite para entender como as empresas digitais estão se moldando ao cenário provocado pela Covid-19.